A CONDESSA SEM CHETA

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Thursday, 5 July 2012

O RIO DA ALMA - LÁGRIMA CAÍDA




Existe no pão, e em tudo,
Uma tristeza profunda.
Vem do centro da alma,
Onde a fome não acalma,
No sentido do relógio.
Sempre há quem se afogue,
Na mágoa e na tristeza,
Na vida e na pobreza.
Há um pesaroso pensar,
Desde o mais simples,
Ao mais trajado altar.
São momentos fugazes
Na superfície do mar.
Situações inocentes
Tiram o pão a tanta gente.
Não há ordem, nem razão
Para que se roube, assim, o pão.
Desde os tempos mais longínquos
Há uma ordem universal,
Que semeou o caos no mundo.
Entre guerras e batalhas,
Ouve-se o bater do martelo,
Mas não toca, a todos, trabalharem.
Silêncios desgraçados
Que só geram cansaços.
Há um canseira, distante,
Feito de silêncio e alianças.
Imóveis, os seres,
Que se não  deixam tratar.
Tanta inércia explorada.
Parecem, até, vegetação.
Plantas, isso não são.
As plantas vão trepando,
Caminhando o seu destino.
Elas nascem, elas crescem,
Entre a terra e as origens.
O seu despertar está
Entre a semente, semeada,
Que acabou por desabrochar.
E vão sabendo crescer,
Até serem grandes, como flores.
No desabrochar do pão,
No maturar das amoras,
Há, sempre, uma ordem,
Invisível ao nosso olhar.
Uma mestria selvagem,
Aperfeiçoamento, primazia.
E o nosso silencio,
Alguém o amordaçou.
Se, ao nascer,
Meu silêncio fosse Eu....
Algures tudo floresce...
Dentro das ideias,
Onde sangram as veias,
Uma folha caída,
No chão, jaz morta.
Porque ela caiu,
Não bateu à minha porta.
Que desperdício,
Uma queda, assim, no chão.
Fez tremer meu coração.
Vi-a caída, solitária.
Debalde, inocente,
Vinha dela uma lágrima,
Que pisaram, indiferentes.
Caminhou a lágrima, solta,
Rolando pelo chão.
Procurava alivio,
Mas a procura foi em vão.
Veio uma mão, oculta,
E pediu, para a folha, clemencia.
E tentou suavizar
A queda da folha no chão.
Mas já não era urgente.
Pisada, morta, sofrida,
Já fora levada pelo vento.

Autora: Joaquina Vieira

05-07-2012

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