A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Wednesday, 31 October 2012

RIO DA ALMA - TU ÉS A MINHA POESIA


Tu és a minha poesia,
As mais inspiradas palavras
Que antes de ti não sentia.
As prosas que já esboçava
Em páginas por inventar,
Para livros que não fazia
Mas que a ti dedicava.
Coração ingénuo, não escrevia...
Pernoita, em mim, a emoção
Que me trás a imensidão.
Vem em palavras malditas, 
Da boca de um dragão, saídas.
Poesia que és meu ensaio,
Mestria de minha mão,
Entre versos, entre prosas,
Conduzes o meu coração.
A minha poesia é leviana,
Como se fora mulher de rua.
Aparece quando deseja,
Vem despida, toda nua.
Sem saudade, sem felicidade,
Assim ela se apresenta,
Quando comigo se senta ou
Na minha cama se deita.
Aborda-me, desesperada,
Sem conter a emoção,
Cativando-me a atenção,
Vertendo as suas lágrimas.
Mas eu, ainda que caída de sono,
Estendo-lhe a minha mão.
E busco uma folha em branco 
Que ela, com o seu pranto
Desabado de suas mágoas,
Teima sempre em encharcar.
E assim ficamos as duas,
Até ao fim da madrugada.
Já entendi a sua condição.
A poesia é a eterna criança
E quer que lhe falem de amor,
Só sabendo palavras de esperança.
Assim a conduzo, com paixão,
Porque escrever é a minha missão.
É dizer tudo o que ela sente
E só o que ela consente.
Eu só a assisto e espreito
E com ela me deleito.
Assim maravilhada a observo,
Como se fora o seu servo.
Poesia que és meu encanto,
Suave harmonia, doce canto.
Comigo moras, poesia,
Eu e tu em sintonia,
Até que se faça dia.

Autora: Joaquina Vieira

Monday, 29 October 2012

ESCRITO NAS ESTRELAS



Amiga de todo o sempre
Do início da minha jornada.
Teríamos que nos descobrir,
Um dia, nas nossas pausas,
Que são etapas de vidas.
Estava escrito nas estrelas,
Desde o tempo da criação.
Alma generosa e poderosa,
Como uma árvore frondosa.
Seria no teu tronco forte,
Que eu me haveria de enroscar,
Para apreender o que tu sabes.
Agarrei-me a ti quando, com medo,
Pisava terrenos desconhecidos.
Sempre me embalaste nos teus ramos,
Com a mesma doçura que uma mãe,
Embala o filho em seus braços.
Teus ramos fortes resistiram,
Até ao vento vindo do norte.
Tua seiva me alimentou.
E que importantes os momentos
Que, comigo, repartiste.
Momentos que foram ímpares
E que são parte de nós.
São história da nossa existência,
Gravados na minha alma.
Obrigada pelo que me ensinaste.
Nossos caminhos se separaram,
Mas a amizade fica, para sempre.
Encontrei, no meu caminho,
Gentes de muitos afectos
E de graus diversos, nos intelectos,
Mas ninguém igual a ti.
Não sou assim tão crente
E tenho os pés bem assentes,
Nesta Terra de incrédulos.  
Eu te admiro e me comovo,
Pela intensidade com que tu crês.
Pela tua bondade infinita,
Própria de quem é pura,
De alma e de coração.
Amiga, eu te agradeço,
A semente que depositaste,
Nos caminhos do meu carreiro.
Tantos foram os que passaram,
Mas poucos os que ficaram.
No meio desses, tu brilhas. 

Autora: Joaquina
17/04/2012




Monday, 15 October 2012

CAMINHANDO A ETERNIDADE



E quando a chuva aparece,
Há gente que fica contente.
Chove na seara e na prece,
Chove, do céu, na semente.
E chove, também, no tempo,
No tempo que se vai esvaindo,
Caminhando na eternidade.
E choram rostos, em lágrimas.
Chuvas, de prantos, caindo,
Choros da alma, acordada,
Alma à chuva, carpindo.
Mas tudo tem o seu tempo,
Até o nosso crescimento.
Vem, no tempo, a lavoura,
Trazer o amadurecimento,
Criando o ferro e o cimento,
Gerando o betão da aurora,
Da alva do envelhecimento,
Madrugada do sofrimento.
Mas, hoje, se alguém é triste,
É porque é tristonho o seu viver.
Mas se é pena ter de morrer,
Será penoso ter de viver?
Mas nascer, crescer e morrer,
É isso que é estar e ser,
É isso que é permanecer,
Enquanto o tempo quiser.
Com aguaceiros de lágrimas
E suores caindo na lama,
É assim que tem que ser,
Porque isso é estar e viver.
Porque  a vida não passa,
Tão só de um belo momento,
De um momento que passa,
Sitiado pelo tempo,
E pelo tempo, marcado.
É do tempo que nasce
Toda a dor e sofrimento.
Mas é na Terra que urge
A busca do suprimento:
O alimento para a mente,
Nas vastidões do conhecimento;
O nutrimento para o corpo,
Nos campos do descontentamento.
Mas não digam mal do tempo
Que ele me ajuda a padecer,
Nas labutas do momento.
Que venha a chuva molhar
E o vento atrapalhar,
Que eu serei, sempre, a aliada,
De quem criou este evento,
Que é cada um dos momentos
Que, unidos, são o meu momento.
Enquanto o tempo o permitir,
Com chuvas de suores e lágrimas,
Com ventos que são tormentos
E que também são momentos.
E se a chuva faz crescer
O que, da terra, vai nascer,
Que importa que a chuva caia,
Naqueles que vão morrer.
E a chuva dá-me prazer.
Vem a realidade beijar,
E a minha felicidade banhar.
Dentro da chuva, encharcada,
Eu me recrio, disfarçada,
Brincando no meu agrado,
Manejando o meu arado,
Com que semeio o momento.
E seja bom ou mau, o tempo,
Faça Sol na fria invernia
E chova no seco Verão,
Eu semearei o meu pão,
Nos campos do meu momento,
Que são de contentamento.
Que venham também os ventos,
Ventos daqueles que arrasam,
Ventos daqueles que varrem
Gemidos, uivos, lamentos,
Que, também, há nos momentos.
Porque há ventos de estremecer
E ventos de estarrecer
Que, até o céu, fazem tremer.
Mas que fazem enaltecer
Os corações solitários,
Inquilinos do seu sofrer.
Regou a chuva, o Sol aqueceu,
Tudo, com eles, prosperou.
A seca, na terra, abrandou,
E, na lavoura, ajudou.
Ela vem com os elementos,
Uma organização envolvente,
Que me cinge no seu manto,
Que me sacode e acorda,
Que se move e me recorda,
Que este é o meu momento,
Que este é o meu tempo.
Por isso nunca estarei triste,
Porque faço parte do tempo.
E se a chuva se ausenta,
Meu peito se desorienta.
Não vejo dor nos elementos.
Eles se manifestam, indiferentes,
Às dores dos impacientes.
E sei, há muito,  que o tempo,
Não altera meu pensamento,
Nem o meu procedimento.
Feliz, triste ou contente,
Contento-me com o meu tempo,
Sou feliz no meu momento.
Minha seara, meu pão,
Em campos de contentamento,
Semeados com o coração,
À chuva, ao vento, ao relento,
Nos campos do meu momento,
No tempo do meu viver,
Enquanto o tempo quiser.

Autora: Joaquina Vieira

15-10-2012


Monday, 8 October 2012

MOMENTO DE ALMA – ONDAS DE CRIAÇÃO


























Depois da ausência tornou,
Quem nunca se quis ausentar,
Quem, sempre, teima em voltar,
Quem nunca, de mim, voou.
E para voltar ao seu ninho,
Sempre encontra o caminho,
Sem nunca se ter perdido
Nas encruzilhadas do acaso,
No ocaso das caminhadas,
Por vezes, armadilhadas,
De destinos, sortes, ciladas.
Trazia o sabor a chocolate,
Numa mistura de saudade.
Algo, dentro dele, se reparte
Mas, ainda assim, ele parte,
Apenas para poder pensar,
Para compreender e meditar.
Parte para ter que voltar.
Porque voltar é recomeçar
E partir sem separação,
É balancear a missão,
É escutar o coração.
E entre o dever e as lembranças
De quando parecíamos crianças,
De quando o mundo era anil,
Germinam saudades mil.
E pesa o feito, e o por fazer,
E logo pensa em voltar.
Seu génio reclama, insaciado,
Num emaranhado de emoções
Que não é capaz de decifrar.
Vem com a alma preenchida,
De lugares cheios, vividos,
Por povos, vários, repartidos.
Quando se instala a insatisfação,
Os seus gestos denunciam
Um ser diferente, na indiferença.
Procura, com a mente, a concepção,
Trabalhando com afinco e paixão,
Derramando por vários labores,
Suores, talento, arte e criação.
Desespera porque sem tempo,
Que se escoa com a vida,
Que a vida é feita de tempo,
Que o tempo é cheio de vida,
Que a vida é pouca de tempo.
E procura deixar sementes,
Que outros já renegaram,
Ou porque nunca tentaram,
Ou porque, receosos, tementes,
Da incerteza de falharem.
Tolhidos, na acomodação,
É a forma de secarem,
As límpidas ondas da criação. 
Frenadas logo à nascença,
Desperdício, tristeza, traição.
E neste planeta que ama,
Ele só pretende gravar
O preço da sua existência.
Uma marca que resista,
Par além do tempo que avista,
Num tempo em que não exista.
E aos elementos se entrega,
Cultivando a rebelião.
Sua história é sensação.
Seu temperamento inquieto,
Transforma-se em ansiedade.
Traz energia no regresso,
E, na bagagem, traz progresso,
Em ideias por concretizar,
Em marcas que quer deixar.
E já que nada pode levar,
Ele tudo quer tocar,
Para que algo possa ficar.
Algo que fique, sem tempo,
Algo que fique na História.
Para que uma história de vida,
Resista ao tempo, na memória.
Memória de quem, com tempo,
Possa apreciar sua história.
E findo o tempo de partir
E sem tempo para voltar,
Quer a sua pegada deixar,
Para o tempo que há-de vir.

Autora: Joaquina Vieira
08/010/2012