É neste inadiável
momento,
E neste chão em que me
sento,
Chão que é meu
e não dado,
Chão que lamento, porque
ultrajado,
Por algum impostor ou
ladrão,
Que, atordoada, me
revolto,
Banhada nas lágrimas que
solto.
Eu nunca desistirei. Eu,
não!
É que há um sabor
amargado
Que me trabalha as
entranhas
E que entrou em
revolução.
É o meu povo tombado no
chão,
Chão que, a ele, foi
roubado
E onde rasteja,
escravizado.
É o meu sangue que
escalda,
Como se estivera em
caldeirão.
É a dor que é derramada
E que no solo jaz,
estendida.
E neste País, nesta
Nação,
Vou arrastando meu
corpo,
A minha alma ofendida.
Irmãos, erguei
muralhas
E levantai o vosso arpão.
Entrai, portas adentro,
E arribai vossa Nação.
Vossas vísceras rasgai,
Vosso sangue amassai,
E, desse marasmo,
despertai.
Pelo que é vosso, lutai.
Esta terra que nos
pertence,
Ultrajada e saqueada,
É, torpemente,
humilhada.
São os ladrões engravatados,
De soberba, embriagados,
E de vaidade anafados.
São eles que tudo vos
arrancam
E que de vós se
aproximam,
Como cordeiros pedintes.
Retirai-lhes já o
poder
Que é hora do alvorecer.
Abri portas e janelas,
Lançai tudo cá para
fora.
Fazei-vos à rua, à luta,
Não ides daqui embora.
Nesta terra de sol e
mar,
Lar de antigos
marinheiros,
De pescadores e
aventureiros,
Já não sobram
conquistadores.
Vós, deles descendentes,
Pregai a bandeira nos
dentes,
E lembrando as vossas
dores,
Acossai os opressores.
Da haste fazei uma
espada,
E em riste,
desembainhada,
Castigai vossos
traidores,
Infligindo-lhes as
vossas dores.
Observai à vossa volta.
O que vedes, não vos
revolta?
Sois pais, sois filhos,
sois avós.
Gritai em uníssono, a
uma só voz.
Já é tempo de manobrar,
E de canhões fazerem
soar.
Que seja levada a escravidão,
Pela lava do vosso
vulcão.
Vossos filhos merecerão,
Terem acesso ao seu pão.
Só assim, um dia,
poderão
Ser doutores, ser
artistas,
E afamados cientistas.
Serão homens honrados
E nunca mais humilhados,
Por vossos amos,
bastardos.
Por vossos filhos combatei,
E incendiai cada lei,
Engendrada por
desalmados.
Levantai a vossa espada
Que brilhará na alvorada
Da libertação
conquistada.
De tanto tu tolerares
E de abutres
sustentares,
Já a doença se instalou
E, de novo, a peste
voltou.
E tarda, demora a cura,
Para o flagelo que dura,
Para o desconsolo,
tortura.
A força que nasceu
contigo,
Trago-a, também, comigo.
Se expulsares esse
indiferença,
Poderemos fazer a
diferença,
E voltaremos a ter brio.
Estanquemos o nosso rio
De lágrimas correndo, a
fio,
Voltando a ser a Nação,
Que se bate contra a
traição.
Por ti e pelos teus,
Por mim e pelos meus,
As nossas mãos juntemos.
Só assim, a História honraremos,
Porque, por agora,
morremos.
AUTORA: JOAQUINA VIEIRA