A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Monday, 7 January 2013

RIO DA ALMA - É A HORA DO ALVORECER


É neste inadiável momento,
E neste chão em que me sento,
Chão que é meu e não dado,
Chão que lamento, porque ultrajado,
Por algum impostor ou ladrão,
Que, atordoada, me revolto,
Banhada nas lágrimas que solto.
Eu nunca desistirei. Eu, não!
É que há um sabor amargado
Que me trabalha as entranhas
E que entrou em revolução.
É o meu povo tombado no chão,
Chão que, a ele, foi roubado
E onde rasteja, escravizado.
É o meu sangue que escalda,
Como se estivera em caldeirão.
É a dor que é derramada
E que no solo jaz, estendida.
E neste País, nesta Nação,
Vou arrastando meu corpo,
A minha alma ofendida.
 Irmãos, erguei muralhas
E levantai o vosso arpão.
Entrai, portas adentro,
E arribai vossa Nação.
Vossas vísceras rasgai,
Vosso sangue amassai,
E, desse marasmo, despertai.
Pelo que é vosso, lutai.
Esta terra que nos pertence,
Ultrajada e saqueada,
É, torpemente, humilhada.
São os ladrões engravatados,
De soberba, embriagados,
E de vaidade anafados.
São eles que tudo vos arrancam
E que de vós se aproximam,
Como cordeiros pedintes.
Retirai-lhes já o poder
Que é hora do alvorecer.
Abri portas e janelas,
Lançai tudo cá para fora.
Fazei-vos à rua, à luta,
Não ides daqui embora.
Nesta terra de sol e mar,
Lar de antigos marinheiros,
De pescadores e aventureiros,
Já não sobram conquistadores.
Vós, deles descendentes,
Pregai a bandeira nos dentes,
E lembrando as vossas dores,
Acossai os opressores.
Da haste fazei uma espada,
E em riste, desembainhada,
Castigai vossos traidores,
Infligindo-lhes as vossas dores.
Observai à vossa volta.
O que vedes, não vos revolta?
Sois pais, sois filhos, sois avós.
Gritai em uníssono, a uma só voz.
Já é tempo de manobrar,
E de canhões fazerem soar.
Que seja levada a escravidão,
Pela lava do vosso vulcão.
Vossos filhos merecerão,
Terem acesso ao seu pão.
Só assim, um dia, poderão
Ser doutores, ser artistas,
E afamados cientistas.
Serão homens honrados
E nunca mais humilhados,
Por vossos amos, bastardos.
Por vossos filhos combatei,
E incendiai cada lei,
Engendrada por desalmados.
Levantai a vossa espada
Que brilhará na alvorada
Da libertação conquistada.
De tanto tu tolerares
E de abutres sustentares,
Já a doença se instalou
E, de novo, a peste voltou.
E tarda, demora a cura,
Para o flagelo que dura,
Para o desconsolo, tortura.
A força que nasceu contigo,
Trago-a, também, comigo.
Se expulsares esse indiferença,
Poderemos fazer a diferença,
E voltaremos a ter brio.
Estanquemos o nosso rio
De lágrimas correndo, a fio,
Voltando a ser a Nação,
Que se bate contra a traição.
Por ti e pelos teus,
Por mim e pelos meus,
As nossas mãos juntemos.
Só assim, a História honraremos,
Porque, por agora, morremos.


AUTORA: JOAQUINA VIEIRA



Friday, 4 January 2013

REZAM AS ESTRELAS




E em todas as batalhas,
Naquelas em que entrei,
Ouvi gritos, vi palhaços
E vidas estilhaçadas,
Desfeitas em mil pedaços,
Em reinos feitos de nadas.
Das entranhas do poder
Vem o cheiro, fétido, da dor,
Reinando sobre receios.
Impiedosos carniceiros,
No mundo, na dianteira,
Como abutres, aventureiros.
É comprado o pudor,
Por um pataco roubado.
A cabeça adormece, vazia,
No puzzle de cada dia.
Erguem-se os corpos
Rasgados, maltratados,
Neste mundo torturados,
Sem perceberem o porquê,
Da singular carnificina.
Esta que homenageio,
Era só mais uma alma
Quetrazia a sua missão.
Mas eis que é brutalizada e,
Em pleno chão, violentada.
A bestialidade triunfou
E sua alma lhe roubou.
Era jovem, para viver,
A morte para aprender,
Em sua vida, seu sofrer.
Era uma jovem menina,
Atirada para o pó da rua,
Descoberta, toda nua,
Nem pode, sequer, provar
Da vida, que era sua.
Um crime e a debandada,
Leva um povo, uma nação,
Ao protesto, à exaustão.
Ela era uma mulher,
E mãe seria, um dia,
E dos seus filhos, guia.
Roubaram-lhe a inocência.
Mentes doentes, demência,
Neste mundo a reinarem.
Assim me cruzo, intrigada,
Pela crença enraizada
Em deuses condutores.
São tantas as estrelas
Que hoje por ela rezam.
Prepararão o seu leito
Nas alvuras do perfeito,
Nas alturas do secreto.
Mas a dor fez última morada
Em seu corpo maltratado.
Ficou destroçado, em solidão,
Quem a tinha no coração.
Só lhes resta rezar
E, por ela, reclamar.
Sua alma voltou a casa,
Com a missão por acabar.
Se tal não sobreviesse,
Sabe-se lá o que faria.
Talvez que ela pudesse,
 E, um dia, salvaria,
Uma das bestas, um doente,
Que a fez mártir, inocente.
A ti, simples alma cadente,
Neste mundo que enlouqueceu,
A ti dedico, com afeição,
Este momento de dor,
De raiva, luto e aflição.
Que encontres, lá no céu,
O universal e inacabável amor.

AUTORA: JOAQUINA


DEDICADA À JOVEM INDIANA, DE APENAS 23 ANOS, SELVÁTICAMENTE BRUTALIZADA E ASSASSINADA.