Em ti me embrenhei,
Por ti, o que corri.
Eu sempre a correr para ti,
Tu sempre a fugir de mim.
Vieste como um mapa
Que eu não consegui abrir.
Mas o tempo que me deste
Ainda não atingiu o seu fim.
Confesso-me a ti, tempo,
Que a ti, tempo, não perdi.
Procurei, contigo, lugares,
Tu seguindo sempre à frente,
Eu atrás, mais devagar.
Nunca me consentiste tréguas,
Mas não deixei de te acompanhar.
A ti, que não conheces mercado.
Andei pelo mundo, sozinha,
Na esperança de te encontrar.
Mas tu sempre voaste
Bem para lá do meu sonhar.
E como sonhei contigo!
E o que poderia fazer
Com o tempo que, a mim, davas?
Hoje te confesso que me perdi!
Perdida entre ti e o caminho
Que nunca pude encontrar.
Deste-te a mim, tempo,
Para eu tudo experimentar.
Para tentar fazer de mim
Uma alma sempre presente.
Mas eu sempre soube, tempo,
Que eras curto para mim.
Que terias de te dividir
No meio de muita gente.
Confesso que me perdi
No meio da urgência
Em te agarrar, tempo.
E fiz muitas asneiras,
Mas também sementeiras.
E dormi, ao relento,
Sem que ninguém se importasse.
Mas lá estavas tu, tempo,
Como guia atento, presente.
Passaram os dias, os meses, os anos,
E passou também a semente.
A ti que não há quem minta,
Não passarei uma rasteira.
Cairia eu na ratoeira.
Que posso fazer contigo, tempo?
Em ti não existe relógio
Que conte horas, que te comande.
Nem outro elemento que te lidere.
Assim te conheci e sempre ouvi dizer:
"- O tempo não se apanha, não se mede,
Não se agarra e se, ainda que perto,
Ele está sempre ausente".
Mas concede-me mais tempo, tempo.
Tempo que foste inventado
Dentro da minha mente.
Agora que começas a desfilar
Por entre as dores e o sofrimento,
Será que te consigo agarrar?
Só quando na minha cama deitada
E meu corpo ficar dormente.
Creio, em ti,
Em tudo o que me deste.
Eu sei.
Tudo foi um presente.
POR: JOAQUINA VIEIRA
O tempo que passou! Publiquei isto em 2011.
Pouca gente teve tempo para pensar.
Entretanto, para muitos, o tempo acabou.