A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Tuesday, 27 December 2011

O PRINCÍPIO



Tu, que vives nesta dimensão,
Que cruzas o meu caminho,
Que chamas a minha atenção.
Que me olhas e te admiras,
Restaurando, no meu rosto,
Exposto, tons de serenidade.
Mas que conheces, de mim?
Não sabes, mas tens intuição
Porque, cintilante é a luz
Que já, em ti, brilha.
Ela se focou em mim
Enquanto eu adormecia,
Neste espaço, na vastidão.
Tu, a quem entregaram,
Ao nasceres, um bordão.
Foi neste nosso mundo
Que me vieste a encontrar,
Entre a roseira brava,
No cálice mais puro
Onde te vieste a banhar.
Neste universo paralelo
Onde vivem borboletas
Que anunciam a Primavera.
Quisera eu ser, para ti,
Não mais que uma quimera!
Entre espadas e laços
Se dividem espaços.
Eu, mulher de mil rostos
Em tantas reencarnações,
Os papéis que desempenhei
Até, a ti, encontrar.
Despi meu corpo franzino
E espreitei o princípio
Entrando, por uma fresta.
Vi, então, que tudo era festa,
Onde coros de anjos entoavam,
Em inexprimível harmonia,
A mais sublime das sinfonias.
Era a nona, a de Beethoven,
Eterno, ímpar, hino à alegria.
Fora, escutava andorinhas
Atarefadas com seus ninhos.
Hoje me sacio com teu saber
Porque, na tua fonte,
Foi lá que fui beber.

Autora: Joaquina

08/12/2011

Friday, 23 December 2011

PERDIDA NA NEBLINA


Olhas o horizonte, menina,
No meio do nada, sozinha,
Entre o verde e a neblina.
Cai a chuva, de mansinho.
Ausente, nos teus pensamentos,
No meio do nada, nada sentes.
Assim estavas, menina, bela,
Por maus pensamentos, tomada.
Quem foi que te decepcionou,
Porque estás, assim, triste?
Ainda és apenas uma menina
E que tempos de alma já vives.
Tormentos, lamentos,
Momentos de solidão.
Olhando para a vastidão,
Saberás que, em teu peito,
Ainda bate um coração?
No meio do nada, perdida,
Pensas, só, nas partidas da vida.
Quem para a rua te atirou,
Quem teus sonhos roubou?
Dóis-me, de tão frágil, pequenina.
Cercada pela solidão,
No meio dessa neblina,
Serás, apenas, uma miragem?
De tudo alheada, ausente,
Nada há que te faça frente.
Ali, sozinha, tu não meditas,
Não avalias a natureza,
Nem, com ela, te misturas.
Para além do teu olhar,
Num infinito, sem fim,
Estarás só a apreciar
A obra, por Deus, criada?
Tudo, em ti, se mistura,
 Para te dar esse ar frágil,
Triste, afastado, distante.
Bem para lá do instante,
O que te passará pela cabeça?
Sonharás com um cavaleiro
Que aparecerá, das brumas,
Montando um cavalo branco?
Ele te levará, na sua montada,
Para bem longe dessa apatia
Onde tu, menina, formosa,
Te encontras, perdida, tristonha,
No meio dessa neblina,
Neste dia de chuva, teimosa,
Que cai mansinha, miudinha,
Molhando a tua solidão, menina
Formosa, tristonha, perdida.

Autora: Joaquina Vieira
11/12/2011




Sunday, 11 December 2011

O CAMINHANTE DE CASSIOPEIA


                            Já se avista, pleno de energia,
Desbravando sonhos de ninguém.
As estradas são suas companheiras
E os trilhos, suas aventuras.
Ele quer o mundo, inteiro,
Para nele se misturar.
Nasceu, com a alma perdida,
Neste planeta adormecido.
Terá caído de Cassiopeia
E, por aqui, se perdeu?
Sendo diferente, entre os diferentes,
Deixa, em tudo, os seus recados.
Sozinho, desbravou caminhos,
Passeando-se por entre árvores,
Alheando-se sobre as nuvens que passam.
                      Olhos abertos, distraído, mente desperta,
                              Dos desafios e perigos não deserta.
          Com o calor da natureza se funde,
Para radiografar o seu mundo.
Andar apressado, fitando o tempo,
Na Terra quer deixar semente,
Obra para outra gente.
Faz seus planos mentais
Para os divulgar aos demais.
As células, sempre em confronto,
Tiram-lhe, de todo, o sono.
Para ele, é uma perca de tempo
Dormir de olhos fechados.
É um ser inquieto, por natureza,
Que, neste planeta, aconteceu
E que na minha vida, desceu.

Autora: Joaquina Vieira


11/12/2011

A LEI DA CRIAÇÃO


Nasce o dia, nasce a nascente,
Nascem almas, no mundo da alma,
Muitas almas descontentes.
Assim como nasce, no mundo, gente,
Nascem nuvens na montanha,
Nascem crianças das entranhas.
E, dentro meu peito nascem
E se reúnem saudades.
E, aquele dia chegará,
Em que toda a gente morrerá.
Virão os profetas proclamar
Que o mundo vai acabar!
E, dos senhores que adivinham,
Choverão profecias.
Virão, aos incautos, lembrar
Que, esse dia, está a chegar.
E, quando a desgraça vier,
Que se acautelem os crentes
Porque afirmam, os videntes,
Que muita gente irá morrer.
Que virá o trovão, como aviso,
Seguido da tempestade.
Virá, depois, o tufão
Que, a todos, derrubará.
Mas, só isto, não bastará
Para os incautos acreditarem.
Acordarão, então, os vulcões
E, de dentro de suas fornalhas,
Fumo e fogo sairão.
E assim se cozem mortalhas.
E sendo, tudo isto, ainda pouco,
Os Continentes naufragarão,
Os barcos se afundarão
E suas gentes morrerão.
Mas prestem bem atenção.
Existe, sempre, a salvação
Que será anunciada
Por seres de outras estrelas
Que, connosco, comunicarão.
Será uma louca correria
E os cientistas virão
E, nos planaltos, se ajuntarão.
De olhos postos no céu, esperarão.
As religiões, as pazes farão.
E perante tal apocalipse,
Apenas os benditos,
Os que acreditarem na transformação,
Serão escolhidos.
E assim irá pelos ares
A teoria da evolução.
E virá um novo Darwin,
Aos humanos, dar a mão
Para lhes fazer entender
O que é a lei da criação.

AUTORA : JOAQUINA VIEIRA

11/12/2011

Thursday, 1 December 2011

RIOS QUE NASCEM


Rios de lágrimas
Escorrem,
Entre montanhas.
Desertas.
Regam a minha floresta.
Lágrimas doces ou salgadas
São prementes, semeadas
Dentro dos sentimentos.
Furtiva é a lágrima
Que desce, lentamente.
Alimenta minha mente
No sufoco calado.
Ela, lentamente,
Desce, sem parar.
Alimenta, de sofrimento,
Rios de lágrimas,
Fontes de emoção
Que se resguardam,
Dentro do coração.
No rio que resvala,
De dentro da minha vida,
Com cor e harmonia,
Choro de tristeza,
Choro de alegria.
Em meu rio vou fazer
Um seguro ancoradouro.
E banharei meu tesouro,
Poesia desfolhada,
Em lágrimas banhada.
O que vem, de dentro,
É um rio amplo, sedento.
Ele alarga, nas alvoradas,
Nesta vida que é a minha.
No deserto do tempo
Criei a semente,
Por meu rio, regada.
Ela cumpriu o seu trilho,
Com seu lamento,
Levando-a outro rio,
Rio que te abres
Entre portas,
Escancaradas.
Pela madrugada,
Tu me vens visitar,
Dentro do meu sonho,
Na minha cama deitada.
Sonho, em ti, suada,
Com a roupa molhada.
A vida assim o traçou:
Que meu rio escorresse;
Que tudo ele me desse;
Que, nele, as magoas afogasse.
Quero, em ti, meu rio,
Minhas lágrimas reter
Para, em espelho de água,
Minha face poder beijar.


POR JOAQUINA VIEIRA

Saturday, 19 November 2011

NO MEU SILENCIO ( LUZ INFINITA )



Nas profundezas do silêncio,
Jugo imperial do isolamento,
Há uma denúncia de todos
Mas que não é de ninguém.
Nele existe a fraqueza
E dele se faz a coragem,
A chave do coração.
Silêncio que embala os sentidos
E arrebata a paz, ímpar éden.
Sem mascaras, sem dons,
Apenas meu eu para mudar.
Nele vivem músicas celestiais.
É dentro do meu silêncio
Que o vento toca, para nós.
Só a alma o sabe escutar.
O silêncio tem nossa voz,
Só ele nos pode saciar.
Escraviza os sons na melodia,
Cria diálogos, em nós habita.
Montanhas se erigem no silêncio!
Só nós as podemos escalar.
Elas nos acedem à certeza
De, com nossa mão, as tomarmos
Como mares, por estranhos sulcados,
Denunciando o nosso querer
Até às fronteiras da agressão.
O silêncio anuncia a noite,
A noite que não acorda.
Fracassos se fazem presentes,
Noites de amores, eternas ausentes.
Amores em noites que não vivemos,
Auroras, luas e madrugadas
Que, entender, não podemos.
Mãos peregrinas apontam moradas
Com sentimentos misturadas.
A lágrima de dor, da consciência,
Sonhos que assustam a nossa vivência.
Dentro do silêncio se escrevem canções
Ao inferno, que convoca corações.
Há gritos abafados no silêncio,
Gelo que choca o nosso ardor,
Que esbarra em nossa emoção,
Que nos faz lembrar, com fragor,
Que ele é a nossa missão.
Encontro pedaços de céu
Nas nuvens tecidas de pranto.
Planto flores, em cada canto,
Prenhas de som e maresia
Onde elas bebem e choram,
Dentro da nossa alegria.
Nas conchas de cada praia
Há couraças de ilusão.
Clamam beijos de mar
Que confundem, sem ocultar
A monotonia mágica do silêncio.
E, a noite, chama ao desconsolo
Dos silêncios da erma solidão.
E acodem os gritos surdos do mar.
Dentro do silêncio mora o amor.
É a magia a brotar
Da fonte que é a saudade.
Entre dores e lágrimas
Tudo se pode disfarçar.
Dentro de cada alma se fazem sentir
Mãos que se enlaçam em nosso olhar
E sons proibidos de escutar.
No silêncio existe outro silêncio:
O das palavras por pronunciar.
E é, dos silêncios, o superior,
Para os que o podem imaginar.
E é dentro do meu silêncio
Que só eu posso morar.
Nele, só eu posso existir,
Só eu o sei trespassar.
É onde vou guardar meus segredos,
Os que nunca irei revelar.
Mas nele existe um recanto
Onde posso repousar.
Acharei um quarto escuro
Para as memórias depositar.
Guardará uma luz infinita,
Abrigará o verbo amar.

POR: JOAQUINA

19/11/2011

 




AS SOMBRAS DO MEU OUTONO









Tão doces são as sombras
Nas quentes manhãs de Verão.
Mas as árvores, de folhas despidas,
Anunciam o fim da estação.
No Outono tudo acontece
E a vida se escurece
E se arrasta pelo chão.
Como as folhas que foram do Verão.
E se instala o sentimento,
Outonal, cinzento,
Na voz da minha razão.
Brisa o soprar da existência
Dentro de jardins tingidos.
É a alma, a gritar, aflita,
Por não conseguir aquietar-se,
Por não poder manifestar-se.
O Outono também trás
Alguns momentos de paz.
Nas açucenas coloridas,
Abelhas fazendo zumbidos
Trabalham, arduamente.
Trabalham para mim,
Trabalham para toda a gente.
Do seu duro labor
Nasce o mel que cura.
Neste tempo de depressão
Não há tema com inspiração.
Meu Outono está à porta
E, tudo nele, parecerá morto.
Falta-me o pouco que resta
Até a flor da giesta.
Mas voltará o verde Maio
E tudo estará em festa.

POR JOAQUINA

22/10/2011

ENTRE SONOS ME PASSEIO


Sonhos sombrios se atropelam
Quando o luar não espreita,
Nas noites mais longas e escuras,
Entre trevas pejadas de lobos
Uivando no nevoeiro postado
Nos cumes das serranias.
Quando espreita a alvorada,
No portal da madrugada,
Onde meu espírito vigia
E meu corpo se deita,
De meus sonhos se derramam
Pedaços de outras vindas,
Passos de passadas vidas.
Adormecidos, os demais,
Serve a noite, aos chacais.
Nas memórias desterradas
Em que sonhar é demais,
Não encontro descanso
Para todo este espanto.
E canto, então, para mim.
Dentro da minha demanda,
Passeio-me, entre sonos,
Entre vidas por começar.
Quero ir para o espaço
Procurar aquele abraço
Que, outrora, vinha com a aurora,
Quando, em paz, divagava.
Em tempos se ausentou.
É neste quebra-cabeças
Onde, por vezes, adormeço
Que acordam meus pensamentos,
Numa dor alucinante,
Que, de mim, fizeram estante.
E é meu corpo que reclama
Na fogueira onde arde a chama.
Vão sobrar cinzas, de mim,
Que ninguém vai querer, no fim.

POR: JOAQUINA VIEIRA


22/10/2011