A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Sunday, 6 March 2011

MOMENTO DE ALMA - O MOÍNHO



Fugindo do que me atormenta
Num moinho fico aninhada.
Feitas de madeira de carvalho
Sinto o bater das pás, ao vento.

Nele me escondo, furtiva,
Com meus medos pendurados.
Alguém joga às escondidas
Brincando com minha mortalha

Cabelos remexidos pelo vento,
Lavados em águas passadas.
Sinto remexer meu ventre
Por restos de vento, rasgados

Sinto odor a ribeiros
Onde purguei minhas mágoas
Onde sempre me banhei
E neles me senti lavada

Dentro do meu moinho
As pás pararam, sem vento
Nos meus dias mais sombrios
Para tudo, até o tempo

Também capto o momento
Mas não das pás do moinho
Imagino o sofrimento do moer,
Do esmagar dos grãos de milho

Nele encontro meu asilo
Fora do reboliço da cidade
Vem sempre aos meus ouvidos
Os sons das suas pás

Entra a brisa, porta adentro,
Trazendo o cheiro da madeira
Odores a flores, folhagem seca,
Uma gaivota como companheira

Por: Joaquina Vieira

60/03/2011

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