Fugindo do que me atormenta
Num moinho fico aninhada.
Feitas de madeira de carvalho
Sinto o bater das pás, ao vento.
Nele me escondo, furtiva,
Com meus medos pendurados.
Alguém joga às escondidas
Brincando com minha mortalha
Cabelos remexidos pelo vento,
Lavados em águas passadas.
Sinto remexer meu ventre
Por restos de vento, rasgados
Sinto odor a ribeiros
Onde purguei minhas mágoas
Onde sempre me banhei
E neles me senti lavada
Dentro do meu moinho
As pás pararam, sem vento
Nos meus dias mais sombrios
Para tudo, até o tempo
Também capto o momento
Mas não das pás do moinho
Imagino o sofrimento do moer,
Do esmagar dos grãos de milho
Nele encontro meu asilo
Fora do reboliço da cidade
Vem sempre aos meus ouvidos
Os sons das suas pás
Entra a brisa, porta adentro,
Trazendo o cheiro da madeira
Odores a flores, folhagem seca,
Uma gaivota como companheira
Por: Joaquina Vieira
60/03/2011
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