A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Friday 23 September 2011

LOUCURA


Tu, já não me ouves,
Eu nem, para mim, olho!
No teu nevoeiro esbranquiçado,
Escondo a minha cabeça.
Acolhe-me, disfarçada,
Que, na multidão indiscreta,
Há vozes que me abafam a razão.
É, por certo, a demência,
Ocupando-me a consciência
Que gela a minha carne,
Que arrepia a minha pele.
E as duas irresponsáveis
Fazem-me a vida vazia,
Plena de improficuidade.
São os insistentes bramidos,
Ressoam, incessantemente.
São as vozes agudas
Que me magoam a existência,
Dolorida, desta nulidade.
Desejo almejado,
Desejo jamais alcançado.
Quero o silêncio do vazio,
Vazio contido no meu dia.
Silêncio interior, como a dor.
Calem-se as vozes estridentes
E os sussurros indolentes,
Dormindo ao frio.
Enterrem os meus ossos
Dentro de uma fossa.
Não me deturpem a visão.
Estonteia-me,
Servirem-se de mim,
Ser, involuntariamente, presa.
Sou a insaciabilidade,
A loucura insana.
Vá, loucura,
Serve-te, mais, de mim,
Deixa-me gozar da tua frigidez.
Deixa-me, crua,
De mim mesma, nua.
Vem, loucura!
Rompe o meu ventre
E usa-me, como sempre,
Como se fora o prato do dia.
Sorve-me o discernimento,
Sê, por uma vez, humana.
Apaga a minha chama
Mas não leves as minhas cinzas.

POR JOAQUINA VIEIRA
23/09/2011

No comments:

Post a Comment

Note: only a member of this blog may post a comment.