A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Saturday 12 November 2011

O BERÇO



Fizeram, de mim, teu berço.
Sou uma pequena árvore
A que deram o nome de carvalho.
Fui crescendo, por outras, rodeada.
Cresci dura, com fama de qualidade,
Até vir o homem, com seu génio,
Cortar-me, esquartejar-me, levar-me.
Utilizou-me, de formas várias.
Até que chegou aquele dia
Em que alguém, de mim, faria
Artefacto de muito valor.
Foi quando, em mim, se deitaram
Príncipes e princesas, reis e rainhas,
E onde nasceram pequenos delfins.
Outros factos por mim passaram.
Assassinatos, noites de amor,
E todo o género de horrores.
Também fui peça ornamentada,
Altamente valorizada,
Feita, de encomenda,
Para servir em palácios.
Em mim dormiram escritores
E se inspiraram compositores.
Servi de mesa da paz,
Em acordos, entre nações.
Entre orgias e banquetes,
Servi a meus senhores.
E o tempo foi passando
E réplicas, de mim,
Se foram espalhando.
O homem, virado para o negócio,
Nunca me deixou sentir o ócio.
Servi o povo, em pequenos casebres,
E tirei pobres da fria terra.
Em bordéis, casas de prostitutas,
Eu servi para jogos sem fim.
Pobre de mim,
O que eu já vi e assisti!
Mas o tempo passa e tudo muda.
E apareceu outro tipo de leito.
Mais simples, a gosto das damas.
Como tinha demasiados adornos
Fui atirada para museus,
Como peça sem serventia.
Mas como se enganaram.
Eu ainda não acabei, não.
Eu sou feita de carvalho
E, quando já não servir para nada,
Poderei ser sempre madeira,
E dar calor, numa lareira,
De qualquer pobre, que me queira.
Se assim tiver que acabar,
Tudo, até ao fim, irei dar.
Ai daquele que afirmar
Ter pena de mim.
Minha história é abastada,
Como rica foi minha vida.
Agora, desengonçada,
E não servindo para nada,
Já por outras me trocaram.
Mas, se procurarem em algum lar,
Vão, por certo, me encontrar.
Talvez como uma peça rara,
Talvez, mesmo, num jardim.

POR: JOAQUINA VIEIRA
04/09/2011

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