Pesquiso o fundo da minha essência
E encontro o Mar dos Sobressaltos.
Estudo a paisagem que me cerca
E descubro o Deserto dos Segredos.
São águas e areias que me ocupam a mente,
Ora árida pelos segredos,
Ora alagada de precalços.
Perco-me, descalça no meu rio,
E sou arrastada pela corrente
Que me leva, para bem longe,
Adubando a evasão desta aridez.
Procuro dentro e fora de mim,
Vestígios da alegria que anseio,
Sinais para desvendar o invisível.
É o meu equilíbrio o que procuro!
Não o encontrei em sondadas páginas
De afamados filósofos de outros tempos.
Contêm mares e desertos do seu tempo
Mas que, deste tempo, nada dizem.
E percorro o caminho disponível,
Aquele que julgo, a mim, reservado
E que nem sei se tem um fim.
Lá longe, alguém me chama.
É um grito de um outro lugar.
Acordo para o chamamento,
Para o apelo que vem de lá.
Sentada neste lugar, meditativa,
À petição desperto e desespero.
Estou envolvida na vida dos outros,
Que é dos outros e não me pertence.
Ando para lá e volto para cá,
Mas nada vislumbro no horizonte.
A alma que me coube é fugidia
E guia meus passos para o invisível.
Entrego-me ao grito que escuto,
Que vem de lá, não sei de onde.
Nesta mar parado vou navegando,
Sem achar porto que me proveja,
Nem ondas ou marés que me devolvam
Ao dia em que me poderia encontrar,
Mas que não estou certa de lá chegar.
Neste trono que não me pertence,
É só a dor da alma o que sinto.
Tudo para mim é passageiro,
Como passageiro é o momento.
E questiono-me sobre este meu trono,
Porque dele nada sei.
Mas sei! Sim, sei!
Mas sei! Sim, sei!
Que dele não reino porque nem sei do reino!
Misturo-me com os passageiros do tempo,
Mas eles nada têm para me abonar.
Assusta-me esta forma de pensar,
Mas nada posso fazer para o evitar.
Estou atenta a todo o chamamento,
Aquele que está para além de mim.
E entrego-me e abandono-me,
Vagueando, sozinha, neste meu mundo.
Os meus deuses, oh, os meus deuses,
Quando deles mais reclamei,
Já de mim se haviam ausentado.
Quando deles mais reclamei,
Já de mim se haviam ausentado.
Nem sei há quanto tempo, nem para onde.
Minha sabedoria, incerta, não tem certezas,
Como eu mesma, sem certezas de nada,
Sei que, de todos os mares e desertos que sondei
E que de todas as teorias em que me embrenhei,
Nada encontrei que me desse certezas sobre algo.
Retiro o meu orgulho e me entrego
A esta desconcertante incerteza.
Fica comigo a única certeza
De que, apenas, serei pó.
Que o espalhem em qualquer mar
Ou que o misturem com as areias.
Ou nas dunas do deserto que,
Em minhas páginas,
Possam vir a encontrar.
Póstumas.
AUTORA: JOAQUINA VIEIRA
09-02-2012
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