A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Saturday, 29 September 2012

RIO DA ALMA - À BEIRA DO ABISMO



E, da beira do abismo,
Me deixei resvalar,
Para o epicentro da guerra.
Só pretendia observar,
O desconcerto na Terra.
Senti meus pés abrasados,
Arrastados, enterrados,
Nas cinzas ainda quentes,
Onde, esforçados, rastejavam,
Cavalos já impotentes.
Torturados, esfomeados,
Sedentos, esgotados,
Em conflitos envolvidos,
Sem nunca terem sido ouvidos.
Tal como os homens fardados,
Nas pelejas enterrados,
Em bestas transformados,
Sem nunca terem sido ouvidos.
Em guerra, alheias, envolvidos,
Corpos ensanguentados,
Nas bermas abandonados.
Bermas da depravação,
Fronteiras da repulsão.
Os casebres das aldeias,
Arrombados, saqueados,
Por soldados esfaimados,
Desumanos, desalmados.
Sobraram povos escravizados,
Devastados, humilhados,
Incrédulos, apavorados,
Vítimas da alucinação.
Nas suas mãos só restava
A bandeira do fadário.
Era um símbolo da guerra,
Era só uma mortalha.
A do corpo do jovem soldado
Que, para trás, fora deixado,
Retalhado, saqueado.
Guerras estaladas,
Em peitos chorados,
Com a dor instalada,
Por não saberem a razão.
Filhos seus, nunca verão
Porque para a morte arrastados,
Por outros iguais, soldados.
Todos vítimas de dementes,
De vermes homens, vendidos,
Homens de mentes doentes.
E jamais alguma mãe,
Em sua completa razão,
Doaria o seu coração.
Jamais regaria a terra,
Com sangue do seu sangue.
Guerras tristes, fatais,
Malfadadas, brutais,
Indignas de animais,
Cruéis, irracionais.
Guerras que tudo tiram,
Contendas que nada dão.
E das terras férteis que eram,
Sobram lodaçais estéreis, 
Incapazes de darem pão.
Terra, em cinzas, queimada,
Pintada de sangue, calcinada,
Também ela fica para trás.
Como o corpo do soldado,
Em farrapos, mutilado.
Como todos os despojos
Daqueles que nada têm.
E o homem que ainda sobrou,
Apoderou-se do nada,
Do nada que ainda restou.
Seu rosto deitado no chão.
Chão onde antes reinava
Paz, amor e oração.
Tornados, vidas vencidas,
Entre os povos, antes, serenos,
Nas suas vidas, antes, amenas.
Até chegarem os trovões,
Os bandos daqueles soldados,
Até aos dentes armados,
Mas de alma desarmados,
Que tudo arrasam e arrastam.
Montados em seus cavalos,
Esfomeados, arrastados,
Mortos vivos, como os soldados.
Acabarão devorados.
Com eles vem o tambor,
Nas costas do menino,
Que também entrou no terror.
Onde antes se erguiam casas,
Sonhos de vida, labutas,
Perdidas no meio de lutas,
Só destroços restaram.
Onde antes viviam donzelas,
Esventraram os seus jardins
E levaram as suas flores.
Pétalas, flores. E elas.
E o mundo em ebulição,
Manchado por guerras, em vão,
Não conseguirá ter perdão.
Que o diga Napoleão,
Depois de se tornar soldado,
General e imperador,
Plantando feridas e dor,
Nas guerras, rei e senhor.
Pequeno ser absoluto,
Nas vidas em que tocou,
Apenas o luto espalhou.
Tão frágil é o homem,
Quando fora do seu poder.
Que do tudo o que conquistou,
Mais perdeu, desonra ficou.
E já ninguém acredita
Na sua própria desdita.
Que o digam os mortos,
Deste mundo, esquecidos.
Jovens que cedo partiram,
Flores da vida arrancadas,
Nas bermas abandonadas.
Nem dispuseram do tempo,
Do tempo que seria seu,
Mas que outros ceifaram.
Nem aprenderam a amar,
Nem a sua vida a gastarem.
Com uma arma na mão,
Obrigados a marcharem,
Entre o frio e a depravação.
Nem a oração os salvou.
Seu sofrimento, em vão.
Seu sangue regou o chão,
Onde, em tempos, nascera pão.
Nada resta da revolução.
E nas terras que arrasaram,
Outros vieram e reergueram.
E, das cinzas, fizeram casas.
E, nas bermas do aviltamento,
Jazem, já, sob o cimento,
As memórias do sofrimento.
E, nos solos ensanguentados,
Voltou a nascer o pão.
E pastam cavalos, serenos,
Até que volte a revolução.
E povos que vão erguendo,
E povos que vão arrasando.

Sofrimentos, cíclicos, em vão.



ATÉ OS CAVALOS CHORARAM,
NO MEIO DA BESTIALIDADE HUMANA.

AUTORA : JOAQUINA
29/09/2012



Monday, 24 September 2012

ALMA GÉMEA


Descia da Lua, inquieta,
E meu destino era incerto.
Cairia no mar, no deserto,
Haveria alguém por perto?
Mas a meio da aventura,
Avistei, no espaço celeste,
Um vulto, irradiando luz,
Que, para a mim, se dirigia.
E, nas escuridões, se fez dia.
Eras tu, meu companheiro,
Em expedição, à minha procura,
Buscando-me na noite escura.
Também tu, orbitavas, perdido,
No infindo espaço sideral.
Procuravas a outra alma,
A alma gémea, à tua igual,
Que te completasse,
Que já, por ti, clamasse,
E que, advindo o sofrimento,
Te assistisse e acalmasse,
E dividisse o duro momento.
Eu, que também me transferia,
Na Terra, vinha indagar.
Procurava a quem pudesse amar
E que, também, me consolasse.
E que, nos imprevistos da dor,
Nos braços, me suportasse,
E que, com força, me abraçasse,
Vestindo-me, com seu afeto.
E fora do vácuo que há na Lua,
E já na vida que há na Terra,
Avistei uma mata de pinheiros,
Com sombras frescas,
E adoçados cheiros.
Na mata me embrenhei,
E uma clareira encontrei,
E uma fogueira ateei.
Eu queria que os seus fumos,
Sinais que para o céu enviava,
Sinais de fé e de esperança,
Fossem, por ti, descobertos.
E destino, se ali pousasses,
Serias o meu companheiro,
Aquele que vim procurar,
E que fizesse parte de mim.
Isso. Teres o Tudo, em ti.
Codificaste a minha vivência
E ficaste na minha existência.
Em ti me perco, em união.
És a folha caída no chão,
És todo o meu Outono,
És o meu inteiro Verão.
É, em ti, minha folha caída,
Que eu me reinvento e me fico.
Nas Primaveras da vida,
Tu, sempre, voltas para mim.
Com toda a força e certeza
De que tudo o quanto vivemos,
O recriamos em nossos sonhos,
Como seres vivos, sonhadores.
Situa-se no Universo,
A Força que nos uniu.
Éramos dois seres alados
Que, no céu, esvoaçávamos.
Vinhamos dos primórdios da criação
Para, na Terra, cumprirmos missão.
Ainda hoje, como sinto,
O meu impacto no chão.
Porque foi nesse momento
Que senti a tua mão.
Era uma mão de luz,
Era uma mão verdadeira.
E foi por isso que restámos,
Desde então, comprometidos,
Na viagem, missão da vida.
E foi capital, muita coragem,
Que eu sou frágil, como a flor,
E forte como rocha em bruto.
É força que vem de longe
E que move a minha vontade,
Para aceitar a realidade.
Procuro, em mim, o divino.
E a estima da minha alma,
Para viver no mundo real.
Já pouco me interessará,
Se precisar de um começo,
Com alguém que possa contar,
Se a tua luz se apagar.
E já na curva da vida
Veio a serenidade atingir,
Este calor, esta amizade,
De companheiro a prazo.
Que trás, consigo, a música
E alegorias para a alma.
Arte suprema para apoiar,
A reboque dos sinos,
Ao som das contendas,
Ao som dos hinos.
Seremos duas partes,
Cada uma na sua arte,
Na viagem, companheiras.
Deixaremos, por cá, sementeiras.

AUTORA. JOAQUINA

24-09-2012