A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Saturday, 10 September 2011

MOMENTO DE ALMA - A CARAVELA





Na caravela da vida,
Ondeando, ia embarcada.
Às ilhargas carregava
O vento das velas, sopradas.
E lá seguia, esquecida,
E lá meditava, esgotada.
Vejo, então, na gaivota perdida,
Um tal olhar de amargura.
Batia asas, desesperada.
Era a minha dor sufocada,
Numa canção esboçada,
Em meu jeito devolvida,
Emborcada, em dor gemida.
E meus olhos, de tão frios,
Fizeram de gelo, a alvorada.
E, em mim, ali quieta, aninhada,
A minha dor se transformava
Em marinheiros sofridos,
E noutros que o mar levara.
E minha face apedrejada
Por rajadas de vento, salgadas.
E, da muralha das ondas, escutei
A voz que, para mim, sussurrava:
“Aguenta, mulher valente,
Que, nestas ondas, nestas águas,
Serás, para sempre, lembrada.
É que, no azul deste mar,
Tu acabarás, sepultada.”
E a caravela avançava,
Mar adentro, fustigada.
E eu, ali, toda tremia,
E eu, ali, me afogava.
Pudera, eu, ser motor
 E a caravela salvaria,
E a bom porto a levaria,
Toda carregada de amor.
E deixaria, para sempre, a miragem,
Dos feitos, marinheiros, apressados,
Que o mar, aos poucos, levou.
E, para as vagas que passavam,
Eu, para elas, ia sorrindo.
E a viagem prosseguia.
Mas, a tempestade insufla,
E já é tarde, porque é tufão.
E eu ali, tão perto,
E todos, ali, despertos.
Até que, medonha, avançando,
Vem, das ondas, a maior, gigante,
Aquela que tudo arrasta.
E, ali, o mar me levou
E a caravela naufragou,
E nada, de mim, sobejou.
Nem meus vestígios restaram.
Ficaram no tempo que passou,
No meu tempo que cessou!

 Por : Joaquina Vieira

03/09/2011

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