Na caravela da vida,
Ondeando, ia embarcada.
Às ilhargas carregava
O vento das velas,
sopradas.
E lá seguia, esquecida,
E lá meditava, esgotada.
Vejo, então, na gaivota
perdida,
Um tal olhar de amargura.
Batia asas, desesperada.
Era a minha dor sufocada,
Numa canção esboçada,
Em meu jeito devolvida,
Emborcada, em dor gemida.
E meus olhos, de tão
frios,
Fizeram de gelo, a
alvorada.
E, em mim, ali quieta,
aninhada,
A minha dor se
transformava
Em marinheiros sofridos,
E noutros que o mar
levara.
E minha face apedrejada
Por rajadas de vento,
salgadas.
E, da muralha das ondas,
escutei
A voz que, para mim,
sussurrava:
“Aguenta, mulher valente,
Que, nestas ondas, nestas
águas,
Serás, para sempre,
lembrada.
É que, no azul deste mar,
Tu acabarás, sepultada.”
E a caravela avançava,
Mar adentro, fustigada.
E eu, ali, toda tremia,
E eu, ali, me afogava.
Pudera, eu, ser motor
E a caravela
salvaria,
E a bom porto a levaria,
Toda carregada de amor.
E deixaria, para sempre,
a miragem,
Dos feitos, marinheiros,
apressados,
Que o mar, aos poucos,
levou.
E, para as vagas que
passavam,
Eu, para elas, ia
sorrindo.
E a viagem prosseguia.
Mas, a tempestade
insufla,
E já é tarde, porque é
tufão.
E eu ali, tão perto,
E todos, ali, despertos.
Até que, medonha,
avançando,
Vem, das ondas, a maior,
gigante,
Aquela que tudo arrasta.
E, ali, o mar me levou
E a caravela naufragou,
E nada, de mim, sobejou.
Nem meus vestígios
restaram.
Ficaram no tempo que
passou,
No meu tempo que cessou!
Por : Joaquina Vieira
03/09/2011
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