A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Monday, 15 September 2014

RIOS DA ALMA - RIOS QUE CORREM



Rios de lágrimas escorrem,
Entre montanhas desertas.
Regam a minha floresta.
Lágrimas doces, salgadas,
São prementes, semeadas,
Dentro dos sentimentos.
Furtiva é a lágrima
Que desce, lentamente.
Alimenta a minha mente,
De um sufoco calado.
Ela, lentamente,
Desce, indolente,
Alimentando o sofrimento.
Rios de lágrimas,
Fontes de emoção
Que se resguardam,
No meu coração.
No rio que resvala,
Dentro da minha vida,
Com cor e harmonia,
Choro de tristeza,
Choro de alegria.
Em meu rio vou fazer,
Um seguro ancoradouro,
Para guardar meu tesouro.
Poesia, desfolhada,
Em lágrimas, banhada.
O que me vem de dentro,
É um rio amplo, sedento.
Ele alarga, nas alvoradas,
Esta vida que é a minha.
No deserto do tempo
Criei a semente,
Pelo meu rio regada.
Ele fez o seu trilho,
Levando-a outro rio.
Com ela o meu lamento.
Rio que te abres
Entre portas escancaradas.
Pela madrugada,
Tu me vens visitar,
Dentro do meu sonho,
Na minha cama deitada.
Sonho, em ti, suada,
Com a roupa molhada.
A vida assim o traçou.
Que meu rio escorresse,
E que nele, ele acedesse,
Minhas agonias, eu afogar.
Quero, de ti, meu rio,
Minhas lágrima reter.
Como em espelho de água,
Quero minha face beijar.

POR: JOAQUINA


Lágrimas vertidas já em 2011. Não as sequei. Por isso voltam a ser descritas.


CONFISSÃO AO TEMPO



Em ti me embrenhei,
Por ti, o que corri.
Eu sempre a correr para ti,
Tu sempre a fugir de mim.
Vieste como um mapa
Que eu não consegui abrir.
Mas o tempo que me deste
Ainda não atingiu o seu fim.
Confesso-me a ti, tempo,
Que a ti, tempo, não perdi.
Procurei, contigo, lugares,
Tu seguindo sempre à frente, 
Eu atrás, mais devagar.
Nunca me consentiste tréguas,
Mas não deixei de te acompanhar.
A ti, que não conheces mercado.
Andei pelo mundo, sozinha,
Na esperança de te encontrar.
Mas tu sempre voaste
Bem para lá do meu sonhar.
E como sonhei contigo!
E o que poderia fazer
Com o tempo que, a mim, davas?
Hoje te confesso que me perdi!
Perdida entre ti e o caminho
Que nunca pude encontrar.
Deste-te a mim, tempo, 
Para eu tudo experimentar.
Para tentar fazer de mim
Uma alma sempre presente.
Mas eu sempre soube, tempo,
Que eras curto para mim.
Que terias de te dividir
No meio de muita gente.
Confesso que me perdi
No meio da urgência
Em te agarrar, tempo.
E fiz muitas asneiras,
Mas também sementeiras.
E dormi, ao relento,
Sem que ninguém se importasse.
Mas lá estavas tu, tempo, 
Como guia atento, presente.
Passaram os dias, os meses, os anos,
E passou também a semente.
A ti que não há quem minta,
Não passarei uma rasteira.
Cairia eu na ratoeira.
Que posso fazer contigo, tempo?
Em ti não existe relógio
Que conte horas, que te comande.
Nem outro elemento que te lidere.
Assim te conheci e sempre ouvi dizer:
"- O tempo não se apanha, não se mede,
Não se agarra e se, ainda que perto,
Ele está sempre ausente".
Mas concede-me mais tempo, tempo.
Tempo que foste inventado
Dentro da minha mente.
Agora que começas a desfilar
Por entre as dores e o sofrimento,
Será que te consigo agarrar?
Só quando na minha cama deitada
E meu corpo ficar dormente.
Creio, em ti,
Em tudo o que me deste.
Eu sei.
Tudo foi um presente.

POR: JOAQUINA VIEIRA

O tempo que passou! Publiquei isto em 2011.

Pouca gente teve tempo para pensar. 

Entretanto, para muitos, o tempo acabou.


Monday, 28 July 2014

RIOS DA ALMA - ERA O SONHO, UMA MIRAGEM



Vesti cedo,
Desmedida, a sorte,
Contra o medo,
Contra a morte,
Na escotilha do Norte.
Permiti que guiassem
Meus passos temerários,
Por tentadores mares,
Em majestosas naus,
Onde o sonho se sentava.
Era o sonho, uma miragem,
A vestir a coragem.
Vagueei, entre as ondas,
Embalada por amores,
Entre continentes de dores,
Ainda por encontrar.
Tudo carregava na equipagem
E, em pleno sonho, adormecia.
Entre passageiros ansiosos,
Do tempo, perdidos,
Mas como eu, esperançosos.
No tempo dos tesouros,
Juntaram-se os anseios
E também os devaneios.
A viagem, por inteiro,
Contida num tinteiro.
Ela era pioneira
Depositada, primeiro,
Na folha da bananeira.
Escrevia eu a história
E a gravava na memória,
Aquela que, algum dia,
Alguém cantaria.
A viagem ao desconhecido.
Apesar das vagas gigantes
E dos ventos galopantes
Que abanaram a pobre nau,
Ela resistiu aos elementos.
Para contar os seus tormentos.
Mas os mais descontentes
Caíram, fracos, doentes,
E acabaram por morrer.
Também ao mar fui lançada,
Como mala desarrumada.
Mas veio a sorte acorrer.
Porque um audaz marinheiro
Salvou a donzela da morte.
Veio a ser sua consorte.
E em sítios de além-mar viria,
Outra vida, a encontrar.
Ficou, em terra, a seara,
O campo por semear,
A alma por encontrar.
Deixei o medo da morte
Na costa do desnorteio,
Onde a nau tomou o freio.
Por ali ficaria, esquecido,
Abandonado à sua sorte.
Restou o meu livro, adormecido,
No baú das lamentações.
Dos momentos em que amei,
Das lágrimas que chorei,
Dos caminhos que trilhei,
Só sobraram as emoções.

Autora: Joaquina Vieira

27/03/2014

Sunday, 11 May 2014

CANTO A INSPIRAÇÃO DO ALVOR ...


Amigo, como vais?
Como eu, assim, assim?
Somos pessoas normais,
Somos filhos da criação.
O destino não o acato, não!
Ele é constituído por momentos
E por inspirados instrumentos
Construídos por nossa mão.
Confio no Universo, sim,
E amparo-me em minha fé,
E seguro-me na tua, também,
Como se fora minha mãe.
Somos seres desta ocasião,
Largados por um criador
Nos mares da perplexão.
Aproveitando a maré,

Nesta piroga inundada,
Procuramos uma enseada,
Desconhecida da manada.
Há dias em que duvido da fé, até...
Não busco, nesta vida, a graça,
Mas não serei só alguém que passa.
Sonhei um dia ser genial
E viver um grande amor
Que batesse na eira,
As causas da minha dor.
Não serei aparato nem estrumeira
E canto a inspiração do alvor.
E que o que conta, no final,
É tudo o que fiz, bem ou mal.
Mas não sou, isso não,
A que edifica o esquecimento,
No tédio de cada momento.
Meu sonho é ser imortal.
E tu, amigo meu, amante,
Companheiro de meu instante,
O que queres ser, afinal?

Autora: Joaquina Vieira

08/02/2012


Tuesday, 8 April 2014

O RIO DA ALMA - MEU CAMINHO ( MEU BERÇO )




De quem me embalou,
Recebi tudo o que sou:
- Foi minha mãe quem contou.
De tudo me defendi
Porque usei e me servi
Do tanto que aprendi.
Foi nas crises que bebi,
Foi com elas que cresci.
A quem me quiser julgar
E antes de me afastar,
Leia a minha mensagem:
- Que calce os meus sapatos,
E siga as minhas pegadas;
- Que transponha os regatos,
Os que na senda encontrei;
- Que encare, com coragem,
Os desafios que enfrentei
E que encontre a passagem,
Por terras nunca pensadas,
Pelo matagal selvagem,
Nas ondas do mar inclemente,
Até achar continente;
- Que durma só, ao relento,
Ou faça a cama num convento,
Em clausura, descontente;
- Que faça o mesmo caminho
Que percorri, desde petiza;
- Que moa grão no moinho;
- Que aprenda a ser poetisa;
- Que prescinda do conforto
E procure um novo porto,
Começando tudo de novo;
- Que ouse acordar o povo;
- Que sinta o que eu senti
E que sofra o que eu sofri,
No corpo desconsolado,
Jovem e já maltratado,
Desde que fui mutilada,
Por fatal erro, desarmada.
Mas enterrei o sofrimento
Sem gemido, sem lamento,
Para que pudesse esconder
O quanto me custou sofrer.
Sem isso não tenha inveja
Nem, em mim, se reveja.
As vidas são vivências
Ricas em ensinamentos.
Não julgue pelas aparências
Para saber quem eu sou
E porque é assim que eu sou.
Sou uma sucessão de momentos,
Sou o que por mim passou.
Teria que saber entrar e ler
No mais profundo do meu ser.
Se desde o romper do instante
Ninguém é o que julga ser
Nem é o que julga não ser,
Não julgue o seu semelhante,
Pois nem a si sabe julgar.
Todas as pessoas a passarem
Têm uma história por contar.
Tantas delas a naufragarem.
Não sendo aquilo que desejo,
Sou apenas o que apreendo.
Não serei a que me vejo,
Nem o que de mim entendo.
Sou apenas um fragmento,
Um pedaço de sofrimento.
Sou parte de algo urgente,
Grande como o pensamento,
Maior que todo o tormento,
Vivo em minha memória.
Sou a imagem de gente,
Sou a ave migratória.
Serei, talvez, monumento,
Serei um pedaço da História.
Porque sou ar, porque sou vento,
Sou mistura de cada elemento.
Sou uma mulher sem ter tempo,
Serei a mulher noutro tempo.
Sou em tudo em que acredito
E em tudo em que não acredito.
Sou a escritora maldita,
Sou a essência da desdita,
Sou a ruptura da demora.
Sou o amor imperante,
Presente, incessante,
Que sente, que chora.
Agora que pensa saber
Aquilo que julga eu ser,
Talvez me possa admirar
Ou até me ignorar.
Mas se foi capaz de viver
Tudo o que eu vivi e passei,
Se soube amar e sofrer,
Se errou como eu errei
Sem nunca encontrar um fim,
Então poderá falar de mim.

Autora: Joaquina Vieira


01/04/2014