A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Thursday 13 January 2011

QUANDO APARECESTE



 Quando apareceu na minha vida
Trazia consigo a juventude, intacta.
De uma generosidade sem tamanho,
Mas com tal sofrimento implantado.
Roubada que foi a sua juventude,
Por muros e janelas sem grades
Onde a ordem não era contestada.
O seu sonho de ser menino já se perdera.
De tão indefeso quase me assustou!
Eu própria, que vinha do nada,
Tudo tinha para lhe dar.
Ele trazia consigo uma história,
Dolorosa de contar.
Desde o primeiro momento
Que aquele Apolo estátua ao vento,
Com um corpo de invejar,
Era tudo o que eu procurava.
De mãos dadas percorremos
O mundo que imagináramos.
Opostos, mas amantes no sentir.
Ele racional, matemático, filósofo,
Eu sonhadora, protetora, espiritual.
Formámos o par ideal.
Mas o padecimento aguardava,
Para o voltar a marcar,
Com ferocidade inaudita.
A guerra, de mim, o levou
A ele quase o ceifou.
Voltámos, por missão,
Ou pela mão do destino,
A reencontrar-nos.
Nunca mais seria o mesmo.
Vieram, furtivamente,
As diferenças interporem-se.
Acabaram por criar fossos
Difíceis de transpor.
À medida que ele mudava,
Eu, no meu mundo, me fechava.
Sem nada para lhe poder dizer,
O tempo foi passando.
Outra história eu ia criando,
Até descobrir a poesia.

AUTORA: JOAQUINA VIEIRA

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