Gritam as árvores, na cidade,
E
as aves que pousam nelas.
Clamam
os ramos quebrados
E
assobia o vento que os fustiga.
Não
resistem ao seu sopro forte
E
largam as suas mortas penas,
As
folhas que tombam, no chão.
Despidas
arvores, fatigadas
De
quietas, sempre a habitarem,
Campos,
estradas, jardins.
Contentam-se
com as visitas
De
quem, delas, nem dá conta.
E
ainda sorriem para mim.
Cansadas
de tanta maldade
Retribuem,
dando sombra
Aos
ruins e malfadados.
E
até abençoam amores.
Chega
a Primavera, volta a vida,
Segue-se
o estio e a exuberância.
Em
suas folhas viçosas e verdes,
Edificam
os pássaros, seus ninhos.
E
espalham os seus odores
A
quem passa no caminho.
E
gritam, também, a quem passa,
A
quem as não trata com carinho.
A
tristeza que as trespassa!
Mas
é o Verão, a sua estação.
Protegem
e abrigam desprotegidos
Com
suas ramagens e largas flores.
E
chamam, por fim, a atenção
Com
a sombra que, a todos, abraça.
Vem
o Outono e a desgraça
Apregoando,
alto, para quem passa,
Para
quem, descuidado, nem repara
Na
sua triste sorte, despidas.
Vem
o Inverno e parecem estátuas
Nuas,
descontentes, indistintas,
Em
seu espaço de gente despido.
O
frio endurece-as, magras.
O
silêncio não cala o seu grito.
E
gritam, mudas, caladas,
Mas
ninguém dá por nada.
É
assim a vida da árvore.
Dar
sombra é sua missão!
Mas
se já deste sombra
E
voltarás, sombra, a dar,
Porque
gritas, assim?
POR
JOAQUINA VIEIRA
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