A CONDESSA SEM CHETA

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MY BOOK

Thursday, 1 September 2011

O GRITO DA ARVORE


Gritam as árvores, na cidade,
E as aves que pousam nelas.
Clamam os ramos quebrados
E assobia o vento que os fustiga.
Não resistem ao seu sopro forte
E largam as suas mortas penas,
As folhas que tombam, no chão.
Despidas arvores, fatigadas
De quietas, sempre a habitarem,
Campos, estradas, jardins.
Contentam-se com as visitas
De quem, delas, nem dá conta.
E ainda sorriem para mim.
Cansadas de tanta maldade
Retribuem, dando sombra
Aos ruins e malfadados.
E até abençoam amores.
Chega a Primavera, volta a vida,
Segue-se o estio e a exuberância.
Em suas folhas viçosas e verdes,
Edificam os pássaros, seus ninhos.
E espalham os seus odores
A quem passa no caminho.
E gritam, também, a quem passa,
A quem as não trata com carinho.
A tristeza que as trespassa!
Mas é o Verão, a sua estação.
Protegem e abrigam desprotegidos
Com suas ramagens e largas flores.
E chamam, por fim, a atenção
Com a sombra que, a todos, abraça.
Vem o Outono e a desgraça
Apregoando, alto, para quem passa,
Para quem, descuidado, nem repara
Na sua triste sorte, despidas.
Vem o Inverno e parecem estátuas
Nuas, descontentes, indistintas,
Em seu espaço de gente despido.
O frio endurece-as, magras.
O silêncio não cala o seu grito.
E gritam, mudas, caladas,
Mas ninguém dá por nada.
É assim a vida da árvore.
Dar sombra é sua missão!
Mas se já deste sombra
E voltarás, sombra, a dar,
Porque gritas, assim?

POR JOAQUINA VIEIRA

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