A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Thursday, 31 March 2011

MOMENTO DE ALMA - PERDI-ME







Procurei nos espaços siderais
Onde se escondem sentimentos
E sob os mares de corais
Rebati meus pensamentos

Quem, aqui, me encontrou
Já não esperava por mim
Ficou com o que de mim restou
Meu corpo cheirando a alecrim

Perdi-me, neste planeta perdido,
Procurando meu lugar pendente
Transportei no ventre, enchido,
Quem viria a ser meu presente

Em caminhos de briga
Ao som de uma fanfarra
Trabalhei como a formiga
Repousei, como a cigarra

O tempo passou a correr
Como se fora carrossel de feira
Queria eu antes morrer
Que ser escrava batida na eira

Mudei tanto o pensamento
Ao longo do meu trajeto
Padeci de tanto tormento
E não topei meu projeto

Minha guerra se afundou
No oceano de soluçar
Minha caravela naufragou
E ninguém me veio salvar

Por: Joaquina Vieira

15/02/2011

RIO DA ALMA - O RIO DE MIM



No rio que, em mim, corre,
Nele já tu mergulhaste.
No meu corpo de mulher tu já suaste.
Em noites frias de Inverno,
Foi nele que tu hibernaste.
Meu corpo nu, a ti se entregou, sem rodeios.
Sou a montanha que tu já exploraste.
Subiste, por mim acima, com toda a tua secura.
Abriste minhas pernas como quem abre o mundo.
Meu corpo, tua montanha, para ti se abriu.
E facilitou a tua escalada, até chegares onde querias.
Teus lábios sedentos,
Não da água mais pura,
Mas da minha boca,
Dos meus lábios,
Em busca de ternura.
Não querias escutar palavras,
Só querias matar a sede.
Em tua grande aventura exploraste
Com as mãos o que sabias te pertencer.
Nos meios seios, eriçados, te irias perder.
Foste descendo, em mim,
Até minhas coxas se apertarem.
Senti um calafrio, na espinha,
Quando, em mim, quiseste entrar.
Sem grande resistência tu te irias saciar.
Ali, deitada a teu lado, era tua para me deixar amar.
Aos poucos fui-te sentindo como rocha a esventrar.
Acordaste o vulcão que, em mim, se estava apagar.

POR: JOAQUINA VIEIRA

7/01/2011

MOMENTO DE ALMA - PASSAM POR TI, PASSAM POR MIM !



Passam por mim,
Passam por ti,
Imagens de casais,
Felizes ou não.
Olhos no chão, de mãos dadas,
Atarefados na sua necessidade
De chegarem a um porto.
Para se aconchegarem
E, na maresia, se abrigarem.
Eles por ali passam.
Por mim, por ti, só passam.
Trazem, no rosto, sonhos de outros
Ainda por materializar.
Sonhos que, de tão humanos,
São aspirações por concretizar.
Aqui, eu me torno companheira.

E eu passo
E nós passamos.
Sonhos nascem nos nossos passos.
Passam por nós todos os pássaros
Que, em todos os bosques, nascem
Em dias de primavera
E em noites estreladas.

Acordo de volta no meu nicho
Onde, de todas as passagens me dispo.
Contigo, ao meu lado, me despojo.
Acordamos no seio do nosso espólio.

Por: Joaquina Vieira

31/03/2011

Monday, 28 March 2011

MOMENTO DE ALMA - A MINHA ESTRADA



Porque, outra, nunca tentara,
Nunca me perdi na minha estrada.
Um dia, repousava nela, cansada.
Foi então que um canto de pássaro
Vindo do silencioso infinito,
O meu ouvido tocou.
Por mim chamava e me mostrava
Outro caminho, outra jornada.
Nunca dera pela sua presença
Mas ela, aquela estrada,
Sempre ali estivera, parada.
Intrigada, caminhei-a,
Até me deter, esgotada.
Vigilantes, meus olhos abertos,
Numa floresta se detiveram.
À mercê do destino,
Desarmada, confiante,
Escutava os sons, os silêncios.
Com o coração desfraldado
E meus sentires alvoroçados,
A alma despertou-me desígnios.
Eu, viajante do tudo e do nada,
Percorria a minha traçada estrada.
Diante do mundo, ausentada,
Como ancora libertada,
Observava o Universo,
Do qual me sentia parte.
Até que meus pés me levaram.
Agora, tenho comigo uma dança,
Neste mundo de esperança.
Será eterna a minha mudança.

Por: Joaquina Vieira

10/03/2011

MOMENTO DE ALMA - AS MÃOS


Mãos que trabalham,
Que labutam durante a vida.
Que acariciam os maus tratos
E se aquietam, quando felizes.

Mãos calejadas ou frias,
Elas lançam a semente,
Dão amor, dão carinho,
A quem esteja carente

Mãos amigas se estendem,
Para alem das palavras.
Trazem consolo, abrigo,
Num abraço se prendem.

Mãos que falam, com gestos.
Sejam pequenas ou grandes,
Na tristeza ou em festa,
Elas podem ser brandas

Mãos que cometem crimes,
Mas que sabem dar mimos.
Elas, no trabalho, são firmes,
Despachadas, nervosas, agitadas

Ameaçadoras, num gesto de raiva
Podem ser firmes e potentes.
Com elas se ajuda a viver
Mas a sua força maior é acariciar

Quando em contacto com o corpo
Elas nos fazem sonhar.
Entram e saem, em liberdade.

No mundo sabem plantar
Sementes do verbo amar.
Guerreiras, por natureza,
Vão edificando o mundo,
Construindo cidades, vilas, ruas

Elas fincam-se, por amor,
E acariciam a criança rebelde.
Duas mãos são o que basta,
Para tornar a vida mais amena

Por: Joaquina Vieira

20/02/2011

MOMENTO DE ALMA - DIVAGANDO



Meu físico em plena apatia,
Cria laços com o tempo.
Neste dia cinzento,
Onde dormem, ao relento, pessoas sem destino.
Eu, sentada, aconchego minha roupagem,
Como quem está de passagem.
É a monotonia o que trespassa a alma citadina.
São os agasalhos que esvoaçam na brisa fria.
São pessoas apressadas que se cruzam com semblante mudo.
Nestas horas e dias frios conforta ter um amigo.
Para trocar um olhar secreto.
Ver no outro os seus gestos.
Por vezes, um pensar errante,
Mãos que se movimentam.
Palavras que ficam paradas para lá do olhar.
A isto eu chamo intimidade.
É este sentir, presente na mesa do café, que me sustenta
A alma esguia e atenta, entre olhares e gente.
Leva-me a viver de maneira diferente.
Aqui sentados, frente a frente,
Cada qual no seu mundo, os dois estamos,
Em nossos mundos mentais, onde não entram os demais
Mas por onde passam, por vezes, muitos vendavais.
Por: Joaquina Vieira


23/12/2010

Thursday, 24 March 2011

EM BUSCA DE TI !


Sempre esperarei por ti.
Estarás sempre perto de mim.
Vou esperar pelo dia certo,
Pelo momento exato,
Quando soprar o vento correto.
Que a bússola indique teu Norte,
Que o farol te indique o caminho,
Que as estrelas ampliem tua luz.
Que meu corpo se levante
E meu ânimo se livre, em abandono.
Que nos lábios se abram sorrisos,
Que meu coração diga: sim!
Então,
Se não apareceres,
Irei em busca de ti.
No meu pensamento,
Sem te tocar,
Sem te dizer nada.

Por: Joaquina Vieira

19/03/2011

VIVER É ISTO



Mundo este, onde habito.
Sempre estou em conflito
Com mentes, com esquizofrenia.
É um desassossego intangível
Por onde entra a prosa e poesia.
Num esgar de alegria
Elas vêm alegrar meus dias.
Interpõe-se a inacessibilidade
Com toda esta sensibilidade
Que me toca a alma.

Pobre alma, despida,
Entre despojos concebidos,
Em guerras do além.
Por aqui me abraço,
Neste pequeno espaço,
Meu corpo, hibernáculo.
A alma!

Essa continua a procurar
Um lugar para morar.
Onde se possa impregnar.
O mundo vai continuar,
Por mim, a passar.
Enquanto eu,
Carcaça errática,
Perante meu espanto,
Encontro o inferno de Dante.

Mas viver é tudo isto!
Nas veredas verdejantes
Ajustar-me-ei, como antes.
E aos rimos circundantes
Deste viver, em pranto.

Por: Joaquina Vieira

20/03/2011

MOMENTO DE ALMA - O MEU RECADO



Deixo um recado no mar,
Escrito na espuma branca,
A tinta azul, nas ondas cantantes.
Aos elementos deixo minha gratidão.
Às manhas cinzentas e ao vento
Lego minha inspiração.
Deixo recados rotineiros
Às flores dos meus canteiros.
Às montanhas sem fim
Deixo meu amor, inteiro.
Os perfumes que derramei
Às noites em que não dormi.
Longas noites, loucas.

Se eu partir, sem me despedir,
Deixo um recado à chuva.
Porque regou meus caminhos
E fez brotar a semente.
Porque embalou meu sono, suavemente,
Nas montanhas altaneiras,
Por onde passam rios
E se banham meus trilhos.
Com o calor e o brilho,
Aos verdadeiros amigos
Deixo minhas palavras,
E o meu muito obrigada.
Se eu partir
Deixarei muito amor,
Para quem nunca me quis ouvir.

Por: Joaquina Vieira

21/03/2011

Friday, 18 March 2011

RIO DA ALMA - VEM A MIM



Vem, a mim,
Mata a minha saudade.
Neste grande desafio,
Onde se perdeu a maldade,
Meus braços reclamam
O abraço esperado.
Meu coração grita
Por ti, meu desejado.
Não cabe no meu peito,
Este amor imerso,
Que espera o reencontro.
Teu corpo, meu barco,
Refugio das tempestades,
Onde o tempo me não derruba.
Por ti vivo no solo molhado,
Pelo mar por ti alcançado.
Onde a vida nos espreita,
Como numa rua estreita,
Onde custa a passar.
O tempo de espera
Que, em mim, deixei ficar…
Faço sonhos na tua ausência
Em que me vejo a divagar.
Vamos queimar na fogueira,
Folhas soltas, despegadas,
Na história mergulhadas.
Dos tempos de aventura
Aqui só quero deixar
Este meu testemunho.
Do meu corpo apaziguado,
Das tormentas que passaram.
Deixar também no momento,
Tudo aquilo em que assenta,
Este nobre sentimento
A que se chama saudade.

POR: JOAQUINA VIEIRA


30/06/2010

Monday, 14 March 2011

DA POESIA À PAIXÃO



Quero compartilhar contigo,
Desde a poesia à paixão
Os meus mais simples pensamentos.
Poder discutir contigo
Da canção, o seu refrão.
Assim, de braço dado,
Pela cidade de Lisboa,
Alheada a quem me conhece.
Andar, ao meu passo, sem palavras,
Sem interferências de ninguém.
Podia ser, num passeio à beira-mar,
Ao teu ouvido poder falar,
Do que ficou por dizer.
Viver contigo, despreocupadamente,
Passarmos a ser dois clandestinos
E, mesmo num lugar cheio de gente,
Poder dizer-te, de repente,
Que a felicidade não dura, eternamente.
Mas que a ela temos direito,
Como tem toda a gente.
Só queria partilhar, contigo, coisas
Que a ninguém digo.
Estar do teu lado,
Ser sempre tua amiga

Por: Joaquina Vieira

14/03/2011

MOMENTO DE ALMA - INVERNO


É o Inverno que se anuncia.
Parece que vem resvalando
No corpo da primavera.
Trará o frio que pode gelar,
Minha lenha ainda por queimar,
Minhas rosas por desabrochar.
Escolherei, entre todas, uma cor,
Farei perfumes, pintarei o amor.
Desde que o Inverno chegou
Minhas portas se trancaram,
Até que volte o meu amado.
Virá, ele, o fumo no ar?
Saberá onde está o seu lar.
Na noite escura ele me protegerá,
Da escuridão fará um clarão.
Soprará, no deserto, o vento
Que ocultará seus sentimentos.
De coração vazio e frio,
Eu lhe concederei uma valsa,
Um tango à média luz.
Sentirá, no balanço, minhas ancas,
Ao dançarmos nossa dança,
Até que o Inverno se canse.

POR:  JOAQUINA VIEIRA


14/03/2011

Friday, 11 March 2011

MINHA CENA





Irrompendo, alma adentro,
Consigo trazendo a doença.
Loucos bem-humorados
Na sua pobre existência.
De mãos dadas, pela vida,
Constroem a sua loucura,
Nas urbes sem destino,
Separados por sepulturas.
Vivem vidas acomodadas
Mostrando mãos partilhadas.
Passeio-me pelas avenidas
Com meus sentidos atentos.
Tenho dias de desalento
Mas, com eles, não me alio.
Aproveito para divagar,
Até perceber o momento.
Mascaras caídas na calçada
Com cores multifacetadas,
Agito-me na minha estrada
E pressinto nova alvorada.
Nos outros não me revejo,
Minha mascara acaba por cair.
Passamos todos, lado a lado,
Sem nunca nos observarmos.
Virá, então, aquele inadiável dia
Em que minha cena acabarei
E o palco, a outros, entregarei.
Eles terão os aplausos da plateia,
Eu, minha vivência, expirarei!

Por: Joaquina Vieira
06/03/2011