Gente que se
move, inócua,
Pela vida,
planando.
Levados
pelos ventos,
Em
labirintos da mente, fechados,
Sem nunca
encontrarem nada
Que justifique
a sua chegada.
Da vida,
cedo se ausentaram
E,
distraídos do mundo,
Voaram do
propósito da criação.
Aqui, jamais
encontraram
Uma
justificação para estarem.
Sua marca
poderiam deixar se,
O seu umbigo
deixassem de mirar.
O que
fizeram com o cérebro
Com que
foram presenteados?
Seus
talentos, congénitos, por si,
Jamais foram
descobertos.
Do mundo sendo,
apenas, um acidente,
E, de tudo,
distraídos, desaparecidos,
São bocas
com línguas afiadas e dentes
A mastigarem
cadáveres inofensivos.
Desperdiçam
a sua energia
Em festanças
e distracções,
Tramando
vidas e amigos.
Assim a vida
se esvai,
Por entre
penas, por entre nadas.
Folhas
derrubadas por ventos,
Como suas
vidas, caídas.
E nada há
que os afecte!
Mas o dia,
esse dia está certo,
Como certo
esteve o de ontem.
A muitos
lhes basta a comida na mesa
E, em frente
dos olhos, a televisão.
A roupa está
sempre à mão,
O programa
em antevisão.
O dinheiro,
na sua conta pousado,
Do esforço
de outros, saqueado.
E lá continuam,
planando,
Como se
fossem apenas abutres,
Em cima das
copas das árvores.
Não existe,
para eles, a saudade,
Porque de nada
de notável se recordam,
Porque
esforços não despenderam,
Nem para
ajudar, jamais, alguém.
Passaram,
sempre ao lado, mais além.
A vida se
vai, para eles, esgotando,
Assim, devagarinho,
sem alarido.
Sentados na
poltrona da vida,
Não pensam,
não agem, estão.
São tão
iguais, que não se distinguem
No meio da
manada, amansada, que pasta,
Esperando,
por eles, ser devorada.
Mas há
outros que, remando,
Vão vencendo
a corrente adversa,
E ousam
apontá-los e enfrentá-los
E que se
atrevem a sonhar, intervindo.
É quando, por
fim, os planadores,
Servindo-se
de seus ferozes lacaios,
Também estes
planadores,
Reagem com
bestial violência, primária.
Todos eles, deste
mundo, partirão
Sem nunca
aprenderem nada.
Porque
estiveram assim, servidos.
Vestiram-se
de presunção
Ou serviram
com devoção,
Planando, planando,
em vão.
E, no fim, o
que lhes resta?
Pobres
coitados, bem vestidos,
Morrerão inúteis, planando.
Por Joaquina Vieira