A CONDESSA SEM CHETA

A CONDESSA SEM CHETA
MY BOOK

Friday, 30 September 2011

SOLIDÃO



Inesperada, a desilusão,
Tomou conta do meu peito.
Entrou em meu coração
E deixou marcas em meu leito.
Não me falem mais de amor
Nem do uso que as palavras têm!
Elas são, antes de tudo, de dor.
São gastas pelo tempo, também.
Chegou com o tormento,
Falando como um aliado.
Enfrentámos o sofrimento,
Sempre esteve a meu lado.
Quando se quiser despedir,
As gavetas se esvaziarão.
Cessarão, meus olhos, de sorrir
E, apenas, lágrimas derramarão.

Quando me sentir esgotada,
A tudo virarei costas.
Se o amor já não importa
A escrita será minha aliada.
Fechou-se a minha entrada,
Neste mundo enganador.
Minha porta já está trancada.
Solidão, meu único amor!

AUTORA: JOAQUINA VIEIRA

30/09/2011

Tuesday, 27 September 2011

PÁSSAROS PERDIDOS



Sopra, o vento, para o chão,
Sopra, alto, em minha alma.
Forte sopro, perdição,
Tempestade, furacão,
Vendaval, inquietação
Que agita todo o meu ser,
Que me atinge o coração
Para que deixe de bater.
Estou como os pássaros, perdidos,
Levados pelo temporal.
Meus pés, do chão, levantados.
Mas é um sopro infernal!
Até os ramos, de mim mesma, caíram
E deixaram tal mágoa, tanta dor.
Mas foi com eles que construí
O meu ramo de flores…

POR JOAQUINA VIEIRA
27/09/2011

Friday, 23 September 2011

NADA...


Sinto, o meu corpo,
Como se estivesse já morto.
Sinto, nele, um frio que o cerca
E que me petrifica e derrota.
A pele, sinto-a cada vez mais fria
E, meus lábios, roxos, sem calor.
Há gente, lá fora, a apreciar este desamor.
Olham-me, estranhamente.
E se eu não voltar?
E se eu não existir, mais?
E se mais nada existir,
Mesmo nada?
Fico sem voz, de repente.
Não há lágrimas,
Apenas lamentos.
Lamentos de hábito,
Não de sentimento.
Tapam-me o rosto
E esconde-se a ausência permanente.
A morte olha-se, de lado.
A vida, essa sim, encara-se, de frente.
Frio é este silêncio!
Posição imóvel...
Só, a Ele imploro..
Quem me abraçará, agora,
Não sendo, eu, já nada?
Quem me contará histórias,
Antes da hora dos sonhos?
Quem vai cuidar do que ficou?
Quem vai pintar as minhas fantasias
E, também, os devaneios?
Alguém vai mudar a fechadura da porta.
O resto, pouco importa!
Tenho morada incerta
Nesta clausura de loucura.
As camas continuarão desfeitas
E haverá gente a quem nada importa.
Este dia, parece que não termina.
A noite, não tem, mais, fim...
Nada sinto!
Nada vejo!
Nada me importa!
Acabo de sair por outra porta…

POR JOAQUINA VIEIRA

23/09/2011


PROIBIDO


Fica proibido:
-Receber sem dar;
-Ser amada sem amar;
-Ter voz de tenor;
-Amar sem amor.

Por mim, fica decretado:
-Que o dinheiro não vale nada;
-Não se poder comprar a razão,
 Nem o vintém, nem o tostão;
-Comprar o Sol, ao romper do dia,
  Mesmo nas manhãs solarengas;
-Não se poder comprar o medo
  Nem as chuvas vindouras
  Entre as nuvens, prometidas.

Transformarei o dinheiro
Numa espada de metal,
Em amor fraternal,
Para que todos possam trabalhar.
Se necessário for, defenderei
O direito a cantigas alheias,
Antigas como o dinheiro.

Fica proibido usar más palavras.
Vou, do dicionário, retirá-las,
Para que não falte a liberdade
A partir deste mesmo instante

Fica, por mim, decretado:
- Que a liberdade será transparente,
   Na boca de toda a gente;
- Que ela seja viva e consciente
   Como o rio na corrente;
- Que tenha, como morada permanente,
   O coração e a mente.

POR JOAQUINA VIEIRA

23/09/2011

LOUCURA


Tu, já não me ouves,
Eu nem, para mim, olho!
No teu nevoeiro esbranquiçado,
Escondo a minha cabeça.
Acolhe-me, disfarçada,
Que, na multidão indiscreta,
Há vozes que me abafam a razão.
É, por certo, a demência,
Ocupando-me a consciência
Que gela a minha carne,
Que arrepia a minha pele.
E as duas irresponsáveis
Fazem-me a vida vazia,
Plena de improficuidade.
São os insistentes bramidos,
Ressoam, incessantemente.
São as vozes agudas
Que me magoam a existência,
Dolorida, desta nulidade.
Desejo almejado,
Desejo jamais alcançado.
Quero o silêncio do vazio,
Vazio contido no meu dia.
Silêncio interior, como a dor.
Calem-se as vozes estridentes
E os sussurros indolentes,
Dormindo ao frio.
Enterrem os meus ossos
Dentro de uma fossa.
Não me deturpem a visão.
Estonteia-me,
Servirem-se de mim,
Ser, involuntariamente, presa.
Sou a insaciabilidade,
A loucura insana.
Vá, loucura,
Serve-te, mais, de mim,
Deixa-me gozar da tua frigidez.
Deixa-me, crua,
De mim mesma, nua.
Vem, loucura!
Rompe o meu ventre
E usa-me, como sempre,
Como se fora o prato do dia.
Sorve-me o discernimento,
Sê, por uma vez, humana.
Apaga a minha chama
Mas não leves as minhas cinzas.

POR JOAQUINA VIEIRA
23/09/2011

ENERGIA UNIVERSAL


Sou só o que sou!
Criança e Mãe,
Mulher e Rainha.
Deusa de Mim.
E de Ti.
Sei, agora,
Para onde vou.
Levo, comigo,
Esta LUZ
Que me Ilumina.
Energia Universal.
Amor e Esperança.
Doçura Resgatada
Em cada SEIO de Mulher.
Néctar da Vida.
Nutrirá
A Nova Humanidade.

Mel de Mim, Mel de Ti.
Mulher, Homem,
No equilíbrio do Ser Divino
Que EU SOU.
POR JOAQUINA VIEIRA


23/09/2011

Friday, 16 September 2011

MOMENTO DE ALMA - EU, MENINA, MENTE MINHA ...


Estância, brecha aberta à multidão,
Panorama colorido por várias cores,
Mãos de diversos criadores.

E a cada retoque, um segredo calado!
Recato de vida ardente!
Aguilhão de rosa sangra minha pele.

Mutabilidade!
É minha mente!
Ela é como o vento,
Troca as minhas rédeas.

E faz de mim,
Ora menina fragilizada,
Ora Mulher, ora Senhora
Com sorriso mal esboçado.

Perco-me dentro de mim!
Quando me não vejo,
Fecho os olhos para me sentir.

A outra, a que acarreta a bagagem
 Numa inteireza mal arcada,
A outra, essa, se contraiu.

Na expectativa, encurralada,
A que se olhava ao espelho,
De cabelos desalinhados.

A que andava, sozinha,
No meio dos martírios
Era eu, só uma menina
Magra, feia, suja, desdentada.

- Que fazer da menina?
- Dêem-lhe um banho.
- De aromas!
- Vamos encontra-lhe um amor.

E a menina cresceu!
E formou-se uma deusa.
Linda de encantar!
Até os homens a desejarem…

POR JOAQUINA VIEIRA

16/09/2011


Wednesday, 14 September 2011

MOMENTO DE ALMA - DENTRO DE OUTRO TEMPO...


Minha alma, desconcertada,
Com farrapos vestida,
Tenta esconder minha dor
Que, de tanta nudez, suspira
Por abrigo e por amor.
Se ela se satisfizer
Com brocados e pedrarias
Recorrerei a tempos idos,
Onde as damas os usavam
E ornavam seus vestidos.
Procurarei outros bálsamos,
Para curar os ferimentos
Por onde espreita a alma
Que, de tanta dor vivida,
Vive em estado de alerta.
Meu corpo, despido porte,
Com trapos, sem honrarias.
Que uns e outras o abrigam,
De todas as intempéries.
Mas, com a angustia do mundo,
Como, minha alma, serenar?
Procuro, somente, um abrigo
Para a minha alma acolher.
E se ela assim o exigir,
Me vestirei de bordados
Que tapem as minhas carnes,
Que abriguem minha alma
Porque a sinto descontente.
Como me ressinto deste desprazer
De que meu corpo não pode falar.
De onde vem o desconforto?
Vem do corpo, vem da alma?
Vou, a fundo, investigar
De onde vem o sofrimento.
Nem que tenha de voar
Para dentro de outro tempo.
Será que lá encontrarei,
Algum remédio, a solução?
Algo que aguente o bater
E que blinde meu coração.
Mas faltava a angustia somar-se
A este momento tremendo.
E meu corpo, assim assustado,
Será que treme de medo,
Ou estremece, antes, de arrepio?
Ou está apenas a manifestar
Este meu estado ansiedade,
Por se sentir abandonado,
Pela alma errante, hirta.
Se tiver que vestir o corpo
Com brocados e bordados,
Farei todos os caminhos
Para minha alma alcançar.
Eu sei que, meu corpo, reclama
Trapos para o vestir.
É que a alma, inocente,
Apenas não está contente,
Com todo este sentir.
Do outro lado vem o sinal
Para o meu corpo aguentar.
A alma tem que sobreviver,
No corpo terá que habitar.
Ela, lá, mora a gosto
E não consente distração.
Ela sabe o que tem pela frente,
Ela conhece bem sua missão.
Todo este descontentamento
Vem só do momento presente,
Deste mundo descontente
Que, aos poucos, meu corpo mina.
Mas minha alma, despida,
Nem sequer se contradiz.
Nada reclama, nada precisa.
Requer só a minha atenção,
Para que o corpo não sofra,
Em vão…

POR JOAQUINA VIEIRA

14/09/2011

VEM, VOA...


Toma, rápido, a dianteira,
Com tua mão, certeira.
Veste teu fato de festa
Que teu laço é tua meta.
Toma já a dianteira
E voa com as andorinhas.
Faz, com elas, o teu ninho
Forrado de trigo, dourado
Com o pó do céu estrelado.
Leva-me, como teu guia,
Para dentro da tua morada.
Deixa, fora, teu pensamento,
E alia-te aos elementos.
Verás teu corpo a vibrar,
E teu criador a querer-te curar.
Veste a túnica da cura,
Onde reina outro mundo,
Fora da tua cabeça.
E antes que eu adormeça
Quero, no teu império, entrar,
Quero, contigo, festejar,
Nessas estradas já reparadas,
Onde nos espera a ventura.
Ninguém mais, só tu e eu.
Desejo-te, a meu lado,
Rejuvenescido, animado,
Vivendo o milagre da cura.
Viajaremos em tua nave
E correremos o teu mundo.
Abandona o teu pessimismo,
Numa cerca longínqua, fechado,
Para que possamos voar.
Tu comigo e com o pensamento,
Aliados numa corrente,
Onde entrem os elementos
Que te conseguem curar.
Dá um tempo a teu corpo
Que, de gasto e cansado,
Começa já a reclamar.
E protestas, a seguir, tu,
Da tua desventurada vida
Que, quando boa, não brindas,
Que, quando má, te naufraga.
Vem comigo, agora, João.
Vem, voa, dando-me a mão.

POR JOAQUINA VIEIRA

14/09/2011

PLANADORES



Gente que se move, inócua,
Pela vida, planando.
Levados pelos ventos,
Em labirintos da mente, fechados,
Sem nunca encontrarem nada
Que justifique a sua chegada.
Da vida, cedo se ausentaram
E, distraídos do mundo,
Voaram do propósito da criação.
Aqui, jamais encontraram
Uma justificação para estarem.
Sua marca poderiam deixar se,
O seu umbigo deixassem de mirar.
O que fizeram com o cérebro
Com que foram presenteados?
Seus talentos, congénitos, por si,
Jamais foram descobertos.
Do mundo sendo, apenas, um acidente,
E, de tudo, distraídos, desaparecidos,
São bocas com línguas afiadas e dentes
A mastigarem cadáveres inofensivos.
Desperdiçam a sua energia
Em festanças e distracções,
Tramando vidas e amigos.
Assim a vida se esvai,
Por entre penas, por entre nadas.
Folhas derrubadas por ventos,
Como suas vidas, caídas.
E nada há que os afecte!
Mas o dia, esse dia está certo,
Como certo esteve o de ontem.
A muitos lhes basta a comida na mesa
E, em frente dos olhos, a televisão.
A roupa está sempre à mão,
O programa em antevisão.
O dinheiro, na sua conta pousado,
Do esforço de outros, saqueado.
E lá continuam, planando,
Como se fossem apenas abutres,
Em cima das copas das árvores.
Não existe, para eles, a saudade,
Porque de nada de notável se recordam,
Porque esforços não despenderam,
Nem para ajudar, jamais, alguém.
Passaram, sempre ao lado, mais além.
A vida se vai, para eles, esgotando,
Assim, devagarinho, sem alarido.
Sentados na poltrona da vida,
Não pensam, não agem, estão.
São tão iguais, que não se distinguem
No meio da manada, amansada, que pasta,
Esperando, por eles, ser devorada.
Mas há outros que, remando,
Vão vencendo a corrente adversa,
E ousam apontá-los e enfrentá-los
E que se atrevem a sonhar, intervindo.
É quando, por fim, os planadores,
Servindo-se de seus ferozes lacaios,
Também estes planadores,
Reagem com bestial violência, primária.
Todos eles, deste mundo, partirão
Sem nunca aprenderem nada.
Porque estiveram assim, servidos.
Vestiram-se de presunção
Ou serviram com devoção,
Planando, planando, em vão.
E, no fim, o que lhes resta?
Pobres coitados, bem vestidos,
Morrerão inúteis, planando.


Por Joaquina Vieira

Tuesday, 13 September 2011

A FEITICEIRA

























Sou aquela a quem chamam feiticeira,
A encantadora de palavras que,
Juntadas, formam prosas, de algum dia,
E poesias, tocantes, de amarga melancolia.
Tenho dons da flor da amendoeira e,
No regaço, refaço as cinzas da lareira.
A bordo de uma vassoura
Voo, por clareiras, entre espaços,
E raso as ondas dos mares,
Perseguindo cada traineira.
Mas, a minha elegida  faina
É a de alongar as trevas,
Pastoreando as noites,
Emagrecendo os dias.
Este é o mito da feiticeira que,
Nas bermas das ribanceira,
Uiva como o vento norte,
Escolhendo vidas, à sorte.
Mas, também curandeira,
Faço , desfaço e refaço, laços,
Entre as flores da amendoeira.
Caem, no meu regaço, milagres
Que nem eu sei resolver.
Visto-me de trapos, esvoaçantes,
E bebo a água pura das ribeiras.
Viajo de noite, noites inteiras.
Entro em templos desconhecidos
E vou observando fogueiras.
Quantas, tantas, lá vão morrendo.
Eu sou, apenas, a bruma da espuma
Que se desfaz neste mundo.
Sou, também, a venturosa feiticeira
Que, no Inverno, acende a lareira
Para aquecer os desabrigados que,
À minha volta se juntam.
E, pela noite adentro, festejamos
Com vinho tinto na mesa.
E escuto, dos comensais,
As suas alegrias e ais,
Até que a noite se esgote,
Até que o dia se faça.
Ele me desperta os sentidos,
Fazendo-me regressar à vida.
Para a continuar a encantar.

Por: Joaquina Vieira


13/09/2011